QUERIDO POR TODOS (PARTE 1): NAS SALAS DE CONCERTO

Alexandre Dias 02.05.2012

Como medir o legado da obra de um compositor?  Uma das maneiras é analisando o reconhecimento que teve por seus pares.

Ernesto Nazareth possui a rara qualidade de ser amplamente apreciado tanto pelos músicos da esfera erudita quanto pelos músicos da esfera popular.

No post de hoje iniciaremos um vislumbre sobre a “pegada” que Nazareth deixou na música brasileira através das homenagens musicais que recebeu pelos compositores de música de concerto.

Uma das primeiras grandes homenagens que recebeu, ainda em vida, foi a de seu amigo Heitor Villa-Lobos, que lhe dedicou em 1920 o primeiro de sua monumental série de Choros, para violão solo, e que considerava Nazareth "a verdadeira encarnação da alma musical brasileira". Também encontraremos citações de músicas de Nazareth em outras quatro obras de Villa-Lobos: Choros No.8 (que cita Turuna), Concerto brasileiro para dois pianos e coro (que cita Odeon e Atrevido), o 5º movimento Charlot Aviateur (comique) da Suite Sugestive (que cita Apanhei-te, cavaquinho), e o complexo Noneto (que também cita Apanhei-te, cavaquinho).

Francisco Mignone, que também conheceu Nazareth, manifestou seu apreço através das composições Nazarethiana - cinco peças para piano (sobre as peças Sarambeque, Proeminente, Espalhafatoso, e Nenê); Quatro choros (sobre as peças Escovado, Labirinto, Duvidoso e Fon-fon!), a terceira das Quatro peças brasileiras (Nazareth), o choro Este é bem Nazareth, a peça para piano "O Leão que não era leão" ,que possui como indicação "à maneira de Nazareth" (de Peças Fáceis, 1976), e a “valsa paródia” Apanhei-te meu fagotinho, para fagote solo.

Radamés Gnattali, que ouviu Nazareth tocar na década de 1920, dedicou-lhe a Homenagem a Nazareth para piano solo, a peça Nazareth para dois pianos, e o famoso segundo movimento da Suíte Retratos, composto sobre a valsa Expansiva. Também encontramos uma citação de Apanhei-te, cavaquinho na fuga de um de seus Trios para violino, viola e violoncelo.

Marlos Nobre, outro grande admirador, compôs seu Op.1a com o título Homenagem a Nazareth para piano solo, extraído do 3º mov. de seu Concertino para piano e orquestra de cordas Op.1. No op.2 consta sua Nazarethiana para piano solo, que depois integrou o 3º mov. do Trio para piano, violino e violoncelo Op.4. Outras obras influenciadas por Nazareth são suas Reminiscências para violão solo Op.78 e o Divertimento para piano e orquestra Op.14, que cita as peças Tupynambá, Tenebroso, Elegantíssima e Brejeiro.

Para além das fronteiras do Brasil, vemos compositor americano William Bolcom dedicando a Nazareth três peças: o 4º movimento de seu Capriccio, intitulado Gingando (Brazilian Tango) Tombeau d'Ernesto Nazareth, para violoncelo e piano; Rag Tango (Hommage to Ernesto Nazareth), para piano solo; e o 1º movimento de sua suíte Recuerdos, intitulado Choro - Hommage to Nazareth, para dois pianos.

Outros compositores do âmbito da música de concerto que homenagearam Ernesto foram:

Camargo Guarnieri (Ponteio No.19 - Homenagem a Ernesto Nazareth, para piano solo);

José Vieira Brandão (Estudo No.2  - Homenagem a Ernesto Nazareth, para piano solo);

Lorenzo Fernandez (Suite Nazarethiana, que permaneceu em rascunhos manuscritos);

Brasílio Itiberê (Homenagem a Nazareth para clarineta, fagote, piano e bateria; Conversa de Bach e Nazareth, para piano solo);

José Alberto Kaplan (Nazarethiana - Suíte em Estilo Popular em três movimentos, para dois violoncelos);

Murilo Santos (Duas Peças 'Nazarethiana' em dois movimentos, para piano, violino e violoncelo);

Edmar Fenício (Memórias de Nazareth - Tango Brasileiro, para violão solo);

Nilson Lombardi (Ponteio No.8 - Homenagem a Nazareth, para piano solo);

Alfred Hülsberg (Rapsódia Nazaretiana, para piano e orquestra de sopros);

Sérgio de Vasconcellos Corrêa (Introdução e choros II. Choro No.2 'Evocação de Nazareth")

Cyro Pereira (Fantasia para piano e orquestra sobre temas de Ernesto Nazareth);

Daniel Wolff (As três faces de ernesto, em três movimentos, para piano e orquestra; o terceiro movimento foi transcrito pelo compositor para violão e orquestra de cordas, sob o título de A terceira face de ernesto)

No próximo post continuaremos com as obras dedicadas a Nazareth no âmbito popular.

TAGS História

COMENTAR