ODEON

COMPOSIÇÃO

1909 (Circa)

1ª PUBLICAÇÃO

1909

Odeon, tango brasileiro publicado em 1909 pela Casa Mozart (E. Bevilacqua & Cia.) em edição custeada pelo autor, dedicado "à distinta empresa Zambelli & Cia.", proprietária do Cinema Odeon. Desde 1909 Nazareth tocava na sala de espera do referido cinema, o mais luxuoso da cidade. Muitas pessoas frequentavam o Odeon só para ouvir Nazareth tocar, deixando inclusive de assistir aos filmes.

Durante a vida de Nazareth, Odeon não foi uma peça de especial destaque, tendo sido gravada apenas em 1912,  pelo próprio compositor juntamente com Pedro de Alcântara ao flautim. Porém algumas décadas após a morte do compositor, Odeon tornou-se seu maior sucesso, especialmente depois que recebeu letra do poeta Vinícius de Moraes na década de 1960. Também possui uma letra anterior, de Hubaldo Maurício, raramente cantada. Até 2012, alcançou a impressionante marca de 325 gravações comerciais, feitas em diversos países.

A famosa melodia da primeira parte é construída de uma maneira engenhosa, tocada pela mão esquerda do pianista, enquanto a direita pontua com acordes. Nazareth utiliza este padrão em outras peças como Fon-Fon!Retumbante TenebrosoÉ interessante também notar que tanto no manuscrito autógrafo como na gravação do próprio Nazareth, a parte B é repetida novamente no final da peça, gerando a forma extendida ABACABA (em vez do tradicional ABACA). Sabemos também que o compositor chegou a tocá-la diversas vezes em sua turnê por São Paulo em 1926/1927 e também no Rio de Janeiro.

Hoje Odeon figura no imaginário coletivo sendo um dos choros mais conhecidos do Brasil e do mundo, ao lado de Apanhei-te, cavaquinhoBrejeiro.

Embora Nazareth tenha composto esta música sem parceiros, é comum encontrarmos em contracapas de CDs a coautoria erroneamente creditada a Ubaldo Sciangula Mangione, presidente da atual Mangione, Filhos & Cia Ltda., segundo informação levantada pela jornalista Daniella Thompson.

 

Letra de Vinícius de Moraes

1ª Parte

Ai quem me dera
o meu chorinho
tanto tempo abandonado,
e a melancolia que eu sentia
quando ouvia
quem me fazer tanto chorar.
Também me lembra
tanto, tanto,
todo o encanto
de um passado,
que era lindo,
era triste, era bom
igualzinho a um chorinho
chamado Odeon.

Terçando flauta e cavaquinho
meu chorinho se desata.
Tira da canção do violão
esse bordão
que me dá vida
e que me mata.
É só carinho
o meu chorinho
quando pega e chega
assim devagarzinho
meia-luz, meia-voz, meio-tom
meu chorinho chamado Odeon.

2ª Parte

Ah, vem depressa
chorinho querido, vem
mostrar a graça
que o choro sentido tem
quanto tempo passou
quanta coisa mudou
já ninguém chora mais por ninguém.

Ah, quem diria que um dia,
chorinho meu, você viria
com a graça que o amor lhe deu
pra dizer “não faz mal,
tanto faz, tanto fez,
eu voltei pra chorar com vocês.”

3ª Parte

Chorinho antigo, chorinho amigo
eu até hoje ainda persigo essa ilusão
essa saudade que vai comigo
e até parece aquela prece
que sai só do coração.
Se eu pudesse recordar
e ser criança
se eu pudesse renovar
minha esperança
se eu pudesse me lembrar
como se dança
esse chorinho
que, hoje em dia,
ninguém sabe mais.

1ª Parte (para finalizar)

Chora bastante meu chorinho
teu chorinho de saudade.
Diz ao bandolim pra não tocar
tão lindo assim
porque parece até maldade.
Ai, meu chorinho
eu só queria
transformar em realidade
a poesia
ai que lindo, ai que triste, ai que bom
de um chorinho chamado Odeon.

 

Letra de Hubaldo Maurício

Ó que saudade das «Soireés» e «Matinês« lá do Odeon...
E lá o saguão, o pianista muito sério, o seu piano a dedilhar...
Os namorados, no intervalo, passeavam a se olhar!
Bilhetes mil, tinham asas, voavam era o jeito de amar.

E, mais tarde, na sala de projeção
O «mocinho» lutava contra o «vilão» era luta, luta dura
Soco, tapa, ponta-pé, bofetão...
A «mocinha» chorava e torcia, em vão...
A platéia gritava com emoção
Pega, bate, pisa, mata, mata, esse grande «vilão«!

E na saída, pra amenizar as emoções
No saguão põe-se a escutar
Ágil pianista tocando tangos,
Choros brejeiros, valsas lentas bem dolentes,
Encantados, embalados, num repente
O pianista vão cercando,
Se chegando, se chegando, quase, quase, quase a dançar, ah!...

 

Letra em francês gravada por Georges Moustaki em 2003:

Je me souviens d’un vieux ciné
Dans le quartier de l’Odéon
Là-bas
Pour deux fois rien on se payait
Quelques navets ou les chefs d’œuvre du muet
Blottis à deux dans un fauteuil
Les amoureux suivaient d’un oeil
Indifférent
Tout ce qui se passait dans
La salle ou sur l’écran

Je me souviens de ce ciné
Dans le quartier de l’Odéon
Parfois
On découvrait de vrais trésors
« Hôtel du Nord » et « Les enfants du paradis »
Les écoliers séchaient leurs cours
Pour y aller rêver d’amour
En regardant le corps transi
Les dentelles noires d’Arletty

Dans l’ombre le monde
Semblait si pur
Sans misère sans guerre
Sans rien de dur
Tarzan Zorro
Pancho Villa
Robin des Bois
Triomphaient des salauds
Nous étions des royalistes
Devant Garbo
Nous devenions marxistes
Façon Groucho
Nos héros étaient des héroïnes
Qui mataient les machos

Je me souviens d’un vieux ciné
Dans le quartier de l’Odéon
Là-bas
Pour deux fois rien on se payait
Quelques navets ou les chefs d’œuvre du muet
Tous les Jouvet tous les Chaplin
« Le jour se lève », « Helzapoppin »
Et « Casque d’or »
Nous en mettaient plein le cœur
Et c’était le bonheur

Seul dans son coin
Un musicien
Accompagnait les drames et les comédies
Si son piano
Jouait un peu faux
Aucun de nous n’en faisait une maladie
Jolies valses de grand-mère
Mazurkas d’avant la guerre
Il connaissait
Tous les succès
Qui avaient fait
Pleurer Margot
Cher musicien
Tout ça est loin
Mais ma mémoire me fredonne tes refrainsEet je revois
Le cinéma
Où chaque jour se retrouvaient tous les copains
Compagnon de ma jeunesse
Je te garde ma tendresse
Tout ça est loin
Mais jamais jamais jamais jamais jamais jamais jamais
Je ne t’oublierai

Je me souviens d’un vieux ciné
Dans le quartier de l’Odéon
Là-bas
Pour deux fois rien on se payait
Quelques navets ou les chefs d’œuvre du muet
Les amoureux y sont toujours
Les écoliers sèchent leurs cours
Pour y aller rêver d’amour
La vie n’est qu’un « Eternel retour »