COMPOSIÇÃO
1898 (Circa)
1ª PUBLICAÇÃO
1898
Gentil, schottisch publicada em 1898 por E. Bevilacqua, “dedicada às moças Brasileiras”. Até 2012 permanece inédita em gravação comercial.
A schottisch é uma dança que já foi muito popular no Brasil, repertório comum em orquestras de salão e em saraus pianísticos. Segundo o Dicionário Grove de Música, a schottisch (ou schottische) é uma: “dança em roda, como a polca, porém mais lenta. Foi introduzida na Inglaterra, em 1848, como a ‘polca alemã’. Já foi sugerida uma relação com a écossaise (que também significa ‘escocesa’), mais rápida. No Brasil, o gênero apareceu com imenso sucesso também c. 1850, sendo adotado pelos mais variados grupos instrumentais (como os ‘chorões’). Abrasileirou-se a tal ponto que, no Nordeste brasileiro, executado por sanfonas em bailes populares, mudou o nome para xótis”.
O Dicionário Cravo Albin também relata sobre a schottisch: “(…) No Rio de Janeiro foi apresentada pela primeira vez em julho de 1851, pelo professor de dança José Maria Toussaint. De grande aceitação, popularizou-se, sendo adaptada para pequenos conjuntos instrumentais. Os chorões do século XIX compuseram versos para ela, transformando-a em um tipo de modinha, denominada na nomenclatura popular 'canção'. Era tão vulgarizada que, em 1851, deu-se o nome de schottisch a uma epidemia que grassou no Rio de Janeiro. (…) Voltou a brilhar nos centros urbanos, quando o baião se tornou moda musical, depois da Segunda Guerra. Integrava o repertório dos conjuntos típicos do Nordeste, com os nomes aportuguesados: xote, chote, xótis e chótis”.
Embora o nome queira dizer “escocês” em alemão, esta dança/gênero surgiu na Boêmia, região da atual República Tcheca, que é também o local de origem da Polca. Uma das maneiras de se definir a schottisch é como “uma polca lenta”, conferindo delicadeza e graça a esta dança.
Este gênero, assim como a quadrilha, sofreu grandes transformações ao longo de sua evolução no Brasil. O modo como ele existe hoje na música popular nordestina provavelmente têm poucas semelhanças com o estilo que era dançado nos salões imperiais do Rio de Janeiro oitocentista, sendo talvez a principal diferença o andamento (o xótis de hoje seria mais rápido que o schottisch da belle époque). Porém há também as diferenças evidentes da instrumentação, sendo triângulo, zabumba e acordeon a base do atual, e orquestra de câmara ou piano a base do outro. A evolução da para o xótis ainda é pouco estudada.
No primeiro álbum de danças de salão impresso no Brasil (1856), a schottisch já estava presente. Rio de Janeiro: Álbum pitoresco-musical contém sete danças de salão européias com nomes de regiões da província do Rio de Janeiro, ilustradas com litogravuras de Alfred Martinet. O bairro escolhido para representar a schottisch foi São Cristóvão, em uma música composta por Quintino dos Santos.
Um dos mais famosos autores de schottisches foi Anacleto de Medeiros, que foi convidado a dar início à Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro em 1896, sendo também seu primeiro regente. Sua schottisch mais conhecida é Yara, que teve o título modificado para Rasga o Coração quando recebeu letra de Catullo da Paixão Cearense. Outro compositor de destaque foi o reconhecido pianeiro Aurélio Cavalcanti, igualmente famoso por suas schottisches, tendo composto pelo menos 18 delas.
Em 1928, Luciano Gallet escreveu que a schottisch “em grande uso, não há muito tempo, não se dança mais agora” (in Kiefer. Música e dança popular: sua influência na música erudita). Porém é interessante observar que em plena década de 1950, quando o gênero já estava “extinto”, muitos ouvintes da Rádio Nacional solicitavam antigas schottisches para serem tocadas no programa O Pessoal da Velha Guarda, apresentado pelo Almirante, com direção musical de Pixinguinha:
“Tínhamos razão quando dissemos aqui na semana passada que os ouvintes tinham decidida predileção pelas schottisches. A afirmativa se comprova depois de cada um desses programas. É que são sem conta os ouvintes que nos telefonam mostrando o seu entusiasmo pelas schottisches que aqui são apresentadas.” (Almirante, em O Pessoal da Velha Guarda, Rádio Nacional, programa transmitido em 27/03/1952).
A Schottisch está presente no site “An American Ballroom Companion”, produzido pela Biblioteca do Congresso Americano, em que a coreografia de 82 danças desde a Renascença até o início do século XX foi registrada em vídeos, utilizando como base manuais de danças de época.
Nazareth cultivou o gênero da Schottisch em apenas outras duas músicas, igualmente pouco tocadas, embora já gravadas: Arrufos (1ª ed. 1900) e Encantada (1ª ed. 1901).
Em seu livro Escola Moderna de Cavaquinho (Rio de Janeiro, Lumiar), Henrique Cazes mostra que o acompanhamento rítmico do cavaquinho na schottisch deve ser “pausa de semínima, semínima, pausa de semínima, semínima, pausa de semínima, duas colcheias, duas semínimas”, o que se encaixa a músicas como Yara de Anacleto de Medeiros. Porém em Gentil temos uma fórmula rítmica ainda mais simples: “três semínimas, pausa de semínima”, intercalada por “quatro semínimas”. As pausas no quarto tempo (que em um andamento lento adquirem proporções maiores) provavelmente servem para guiar os passos do casal que dança, funcionando como pequenos apoios na coreografia.