DOCUMENTÁRIOS NAZARETHIANOS E VÍDEOS HISTÓRICOS

Alexandre Dias 21.05.2012

No post de hoje vamos conhecer os documentários que já foram feitos sobre Ernesto Nazareth.

Em 2004, a Sesc TV (STV) lançou um excelente documentário de 43 min sobre Ernesto Nazareth. Produzido por Jefferson Cardoso, com roteiro, pesquisa e direção artística de Dimas de Oliveira Júnior. Nele encontramos depoimentos do biógrafo e herdeiro Luiz Antonio de Almeida, dos intérpretes Eudóxia de Barros, Maria Teresa Madeira, Yuka Shimizu (pianista japonesa que se mudou para o Brasil para estudar a música de Nazareth), do compositor Osvaldo Lacerda, e também de Ricardo Cravo Albin, Reynaldo Tavares, Fernando Faro e Maricenne Costa.

Para ler a transcrição do documentário, clique aqui.

Em 1991, a emissora inglesa BBC, em associação com a gravadora Decca, lançou o documentário Tango Brasileiro, apresentado pelo pianista americano Joshua Rifkin, contendo ricas informações sobre a vida de Nazareth, diversas músicas interpretadas ao piano e pequena orquestra, cantadas e também dançadas. O documentário foi baseado na pesquisa do biógrafo Luiz Antonio de Almeida. Parte 1Parte 2Parte 3, Parte 4

Para ler a transcrição e tradução do documentário, clique aqui.

Em 1978 a Funarte lançou o curta-metragem Lição de Piano, com direção de João Carlos Horta. Nele encontramos raros momentos do compositor brasileiro Francisco Mignone em sua residência, falando de sua obra, e de épocas passadas, além de tocar algumas de suas composições. Juntamente com sua esposa  Maria Josephina Mignone, toca o tango brasileiro Fon-Fon! de Nazareth em arranjo próprio a dois pianos.  Em certo momento há um precioso depoimento de Mignone, sobre quando conheceu Nazareth: 

"Conheci Nazareth mais ou menos em 1917, pela casa de música de Eduardo Souto. Ernesto Nazareth havia sido contratado para tocar, ao piano, obras que os fregueses desejavam comprar. Mas, antes de comprar, como era moda naquele tempo, queriam ouvir a música, e o Nazareth lá ía ao piano. Pelo que verifiquei, ele tinha uma boa leitura, pois qualquer música que colocavam à frente dele, lia-a com muita facilidade. Naturalmente, ele tinha uma espécie de cacoete. Quando tocava, inclinava-se do lado esquerdo. Depois me disseram que era devido a uma deficiência de ouvido. Ele ouvia pouco. Então, para ouvir melhor, inclinava-se. Ele tinha uma mão grossa, pesada, dedos bastante volumosos. Mas, o som que ele tirava do piano era bonito. E tocava tudo devagar, procurando sempre “cantar”. Enquanto Nazareth tocava, fui-me chegando e, em certo momento, interrompi-o dizendo:

- Eu também toco obras suas.

Ele ficou assim, meio assustado.

- O senhor já toca?

- Eu toco Brejeiro. Se me der licença, vou tocá-lo para ver o que que o autor acha.

Então, sentei-me ao piano e comecei a tocar [Mignone exemplifica, tocando de maneira rápida], com muito entusiasmo. Aí, o Nazareth disse:

- Mas essa não é minha música!

- Como assim?

- Eu toco desse jeito.

Então, sentou ao piano e tocou. [Mingone exemplica, tocando de maneira mais lenta]. Tudo bem lento, bem cantado. Aliás ele [dizia]: 

- Toda a minha música é estropiada! Eles tocam tão depressa... O Apanhei-te, cavaquinho é um desastre! Aquilo é bem devagar, arpejando a mão esquerda, dando a impressão de cavaquinho. [Mignone exemplifica ao piano]

Ele tocava tudo lento e bem claro, e com uma técnica bem apurada. Bem que se via que tinha tido uma boa escola de canto, coisa que eu perguntei a ele. Então, ele me disse que [gostav] muito de tocar Chopin. Chopin era o autor favorito, e que ele tocava as baladas quase todas de Chopin"

Segundo o biógrafo Luiz Antonio de Almeida, Mignone na verdade conheceu Nazareth em 1918, e depois reencontrou-o em 1924 na Casa Carlos Gomes (de Eduardo Souto). A "escola de canto” a que Mignone se refere trata-se do uso de cantabile, recurso em que o pianista destaca a melodia. Mignone tinha Nazareth em grande consideração, e dedicou a ele diversas peças. 

Por volta de 1985 foi ao ar um programa da série A música segundo Tom Jobim dedicado a Radamés Gnattali, com direção de Nelson Pereira dos Santos, gravado na casa de Tom, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Neste vídeo vemos o pianista, compositor e arranjador Radamés Gnattali tocando trechos de  Odeon, Nenê, Batuque, e Improviso e falando sobre quando conheceu Nazareth por volta de 1924. Radamés também dedicou a Nazareth várias peças.

No documentário Nosso Amigo Radamés (1991), dirigido por Moises Kendler e Aluisio Didier, há uma cena histórica em que o maestro toca o tango Carioca acompanhando um filme mudo, exatamente como Nazareth fazia.

Em 1974 foi lançado o documentário Chorinhos e Chorões, produzido pelo Ministério de Educação e Cultura e Instituto Nacional do Cinema, com roteiro e direção de Antônio Carlos Fontoura. Em meio a diversas filmagens raras de chorões antigos, vemos um raro registro do pianista Arnaldo Rebello tocando a polca Ameno Resedá.

No curta Dor secreta (1980), dirigido por Luiz Carlos Lacerda, sobre a vida de Nazareth, vemos ao final mais uma raridade: o violonista Raphael Rabello tocando Apanhei-te, cavaquinho.

Outro vídeo histórico digno de nota é o Odeon tocado por ninguém menos que  Zé da Velha, trombone; Paulo Moura, clarinete; Joel Nascimento, bandolim; Zé Menezes, violão tenor; Raphael Rabello, violão 7 cordas; João Pedro Borges, violão 6 cordas; Heraldo do Monte, violão 6 cordas; e Luciana Rabello, cavaquinho. 

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Atualização em abril/2013:

Em março de 2013, o programa De Lá para Cá (TV Brasil) fez um especial em homenagem aos 150 anos de Ernesto Nazareth, com participações de Luiz Antonio de Almeida, Maria Teresa Madeira, Cacá Machado e Haroldo Costa.

 

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Nosso canal no youtube conta com dezenas de vídeos e listas de reprodução, abrangendo diversas músicas de Ernesto Nazareth.

TAGS História

COMENTÁRIOS

Luiz Carlos Almeida de Araujo - 13.03.2013

Nazarethiando

Cada vez que entro no site elaborado por você, prezado amigo Alexandre, mais me surpreendo e aprendo sobre Ernesto Nazareth. Seu trabalho - um misto de paixão, conhecimento e seriedade - é e sempre será uma contribuição inestimável para a Musicologia Brasileira. Essas imagens, "garimpadas" de acervos midiáticos diversos, nos possibilitam viajar pelo universo nazarethiano de uma forma lógica e simples, como bem pede a obra do referido autor. Retratos de várias épocas - que os digam os cabelos pretos e alguns rostos bem jovens que aparecem nos vídeos -, são testemunhos da admiração e da importância de Nazareth para a música universal. "Nazarethiando" entre dedos e sopros, cada músico vai mostrando facetas e diabruras do referido compositor carioca, suas multiplicidades e concepções estilísticas que fundem refinamento com praticidade, mostrando porque devemos manter viva a memória de Ernesto Nazareth...

Henrique Martins - 21.08.2012

Obrigado!

Que interessante saber o que o próprio Nazareth achava das execuções de suas obras! Só descobri este site agora e estou fascinado. Parabéns!

Jorge Cardoso - 30.05.2012

Obrigado!

É uma grande felicidade conhecermos trabalhos desta natureza, principalmente por termos resgatada e divulgada a memória cultural brasileira. Nazareth merece este reconhecimento e tudo que tentar agradecer aos envolvidos em poucas linhas talvez seria insuficiente. Assim, agradeço a todos na pessoa de Alexandre Dias. Jorge Cardoso http://www.jorgecardosobandolim.blogspot.com.br/

Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) - 21.05.2012

Grande Nazareth!

Quando se vê um trabalho sobre música brasileira ou sobre Ernesto Nazareth, para se ter a certeza de que o trabalho é sério e substancial, basta que ele tenha a chancela de Alexandre Dias. Seu nome recomenda qualquer trabalho sobre música.

Marcelo Sá - 21.05.2012

Mais do que merecido!

Nazareth é fascinante, contagiante... Será ouvido durante séculos e séculos, pois sua música é excelente! Vivaa Nazareth!

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