OS MAXIXES NO EXTERIOR (PARTE 3): “MAXIXE, TANGO, TROT, ONE OR TWO-STEP”

Alexandre Dias 14.09.2012

Na parte 2 desta trilogia vimos que o gênero já existia na França desde 1912, se desdobrando em dezenas de partituras publicadas e gravações, tanto de maxixes autênticos brasileiros, bem como “tentativas educadas”.

Porém a verdadeira febre, ou “dance craze”, aconteceria mesmo nos EUA, explodindo no ano de 1914.

O post de hoje representa a conclusão de oito anos de pesquisa.

Em 1913, o maxixe Dengoso, de Ernesto Nazareth foi publicado pela Forster Music Publisher (Chicago), já anunciado como “internacional dance craze”. Clique aqui para acessar a partitura. Dengoso foi o maxixe de maior sucesso no exterior, recebendo pelo menos 31 edições e 16 gravações apenas na década de 1910, nos EUA e Europa. Para ler a listagem completa das edições, acesse as partes 1, 2 e 3 da trilogia “Um maxixe nos EUA”.

Ainda em 1913, o maxixe Amapá, de Juca Storoni (pseudônimo de Costa Júnior), foi publicado nos EUA pela Chappell & Co. (Nova Iorque) como “le vrai tango brésilien, maxixe”, reproduzindo a edição francesa de Salabert, que ilustrava o dançarino baiano Duque e sua partenaire Arlette Dorgère na capa.

A música foi acolhida rapidamente, e recebeu duas gravações em dezembro do mesmo ano pela Europe's Society Orchestra (78-RPM Victor 35360) e pela Victor Military Band (78-RPM Victor 17528)

Logo Amapá receberia uma edição exclusivamente americana pela Chappell em que era anunciado: "Used in 'The whirl of the world' and programmed as 'The dolly Maxixe' – Featured in 'The belle of Bond Street'. 

O musical em dois atos The Whirl of the World (“O Rodopiar do Mundo”) estreou em 10/1/14 e foi encenado até 30/5/14, totalizando 161 apresentações no Winter Garden Theatre. Sua história abre no fictício “Maxixe Restaurant” em Paris e ainda no primeiro ato os personagens Olivia e François cantam The Dolly Maxixe, que era na verdade o maxixe Amapá.

Já o musical em três atos The Belle of Bond Street teve um sucesso menor, totalizando 48 apresentações entre 30/3/14 e 9/5/14 no Shubert Theatre, e não está claro qual a música em que Amapá se transfigurou.

Em 18 de abril de 1914 a revista The music trade review anunciava: Amapa chegou para ficar (Vol.58 No.16) - as vendas de partituras eram tamanhas que o editor tinha dificuldade em atender à demanda.

Esses dois maxixes brasileiros, Amapá e Dengoso, que juntos resumem o início da dance craze nos EUA, integraram um rolo de pianola (Ampico A 21426) em arranjo para quatro mãos, em 1914.

Ainda em 1913 foi lançado nos EUA The Maurice Mattchiche, de L. Dugue (sic) e E. Costa (Jos. W. Stern & Co., New York), gravado pela Victor Military Band no ano seguinte (78-RPM Victor 35366-B)

O americano Maurice (Mouvet) foi um dos principais dançarinos da década de 1910, junto com sua esposa Florence Walton. Ambos aparecem na capa, iniciando uma tendência que se intensificaria no ano seguinte: a de promover casais de dança de salão nas capas de partituras de maxixes.

Maurice publicou em 1914 o livro The tango and the new dances for ballroom and home (Laird & Lee, Inc., Chicago), descrevendo os passos de diversas danças em voga na época, incluindo o maxixe.


Nesse livro, Maurice afirma: “quando (o maxixe) foi introduzido em Paris no inverno de 1912 e 1913, ele teve aprovação imediata, e quando a Srta. Walton e eu o apresentamos em Nova Iorque pela primeira vez, na primavera de 1913, ele também foi recebido com grande entusiasmo”. A capa da partitura corrobora esta informação, anunciando: "The latest Parisian craze introduced by Monsieur Maurice and Miss Florence Walton".

Na década de 1920 circulavam “flipix”, pequenos livros de animação, ensinando a dançar o maxixe. Abaixo vemos uma reprodução moderna de um deles, ilustrando os “passos circulares” (circle steps)

O maxixe (por vezes referido indiscriminadamente como tango brasileiro) começava a ganhar força com outras publicações e gravações em 1913:

Maori, tango or maxixe, de Wm. H. Tyers, gravado pela Victor Military Band (78-RPM Victor 35304) em maio.

A mi rosa, tango-maxixe, de Currier, gravado pela Prince’s Band (78-RPM Columbia A-5544) em maio.

Bamboola, Brazilian mattchiche, de Frederick M. Bryan (Jos. W. Stern & Co., New York), publicado em junho. Arranjo de Eugene Platzman.

Brazilian dreams, (maxixe) tango-intermezzo, de Will H. Dixon (Penn Music Co., New York), gravado em 1914 pela Prince’s Band (78-RPM Columbia A5579)

The Brazilian, tango, de Carey Morgan (Harry Von Tilzer Music Pub. Co., N.Y.)

Em 1914, o sucesso nos EUA tornou-se gigantesco, resultando em pelo menos 45 maxixes publicados e gravados, compostos principalmente por americanos. Durante todo o ano o maxixe foi a nova moda de maior interesse, tocado nos gramofones nas casas, academias de dança, bailes, restaurantes e teatros musicados.

Álbum Modern Dances, de Malvin Franklin (Knickerbocker, New York)
“Trot & One step, Tango, Maxixe, Hesitation, Half & Half”.

Tango life, maxixe, de Henry Lodge (Waterson, Berlin & Snyder Co., New York)

A Brazilian gem, maxixe bresilienne, de William T. Pierson (W.T. Pierson & Co., New York)

Maxixe Briolette, de H. Vincenzo Luzerno (Jerome H. Remick, Detroit, New York).
Também disponível em edição digital . Gravado em 1996 pelo grupo Smalltimers

Mentel’s Maxixe, La Mattchiche Brésilienne, de Louis Mentel (Mentel Bros.)

Magic Love, maxixe or tango, de Walter Rofe (Oliver Ditson Co., Boston.)

The Uriel Maxixe, La Mattchiche Brésilienne, de Uriel Davis (Leo Feist, Inc., New York)
Ilustração na capa do casal Guillaume De Leyer e Srta. Loriese Alexander. 
Gravado no rolo de piano Arto Roll 88248


Roguish Eyes, Brazilian maxixe, de Jose Santos (Will Wood, New York)

Gypsy, maxixe brésilienne, de Arthur N. Green (T.B. Harms & Francis, Day & Hunter, New York)

Society maxixe, de Walter Pulitzer (Jerome E. Remick & Co., New York, Detroit)

Vlad Maxixe, por P. L. Hallier (Jos. W. Stern & Co., New York, London)
Gravado neste CD

The Brazilian maxixe, tango, de F. Henri Klickmann (Frank K. Root & Co., Chicago, New York)
 

Lobster à la Newburg, maxixe, de Frank Black (Joseph Morris Co. Philadelphia, Pa.)
Clique aqui para baixar a partitura.


Os títulos apareciam em inglês e também em espanhol, mostrando já nesta época uma confusão em torno da língua que se falava no Brasil. O gênero frequentemente aparecia em francês, reforçando o caminho que percorrera, vindo da França.

La nativa (The native), maxixe brésilienne de Will H. Dixon (Penn Music Co., New York)


Quintodo, maxixe brasiliana, de Dick Reinhardt (Jerome H. Remick & Co., New York, Detroit)

Buon giorno (Good morning), tango or maxixe, de Dan H. Caslar (Waterson, Berlin & Snyder Co., New York)

Buenos dias (Good morning), American maxixe, de Kathryn L. Widmer (Jerome H. Remick, New York)

Graciosa, maxixe, de (Waterson, Berlin & Snyder Co. New York)

Populaire, silhouette maxixe, de Oreste Vessella (Cosmopolitan Music Pub. Co., New York). Também publicado por Carl Fischer em arranjo para orquestra.

Maxixe piquante, de Arthur Lange, op. 56. (Joseph Morris co., Philadelphia)

Bonita muchacha (Beautiful girl); one-step, two-step, Brazilian maxixe, de D. Joachim (Benjamin Richmond, Cadillac music co. , New York)

La Mexicain, maxixe-one step, de Edwin Burch. (Daly music publisher, Boston)
Anunciado como “a última dança de Nova Iorque, Paris e Londres”, a capa dizia “introduzido com sucesso por Donald Brian e Cissie Sewell na última produção musical de Charles Frohman ‘The Marriage Market’ ”.

La Cumanda (My Beloved), de Arthur M. Kraus e Milton Gruber (Jos. W. Stern & Co, New York )

El delírio, maxixe do Brasil, de Jesse M. Winne (G. Ricordi & Co. New York)

La belle parisienne, maxixe, de Mayhew Lester Lake (Carl Fischer, New York)
Gravada em 1989 por The Paragon Ragtime Orchestra

La belle sevilliene, international maxixe, de Antonio Celfo (Jerome H. Remick & Co., New York)

Panazon, Dansa brasilena (sic) - Brazilian tango, de Milton H. Kohn (Leo. Feist, New York)

Reina mia (My queen), maxixe, de John H. Densmore (Boston music Co., Boston)

Delicioso, maxixe or tango, de Will H. Dixon, gravado no mesmo ano pela Victor Military Band (78-RPM Victor 35371), e por Felix Arndt no rolo de piano Duo Art 5624.

Maxixe Panama, de Kenneth S. Clark (John Church co. Philadelphia & K. S. Clark, Cincinnati; London)

Amoroso, maxixe or Argentine tango, de Ted S. Barron (Metropolis Music Co., New York). Re-editado em 1916.

La flor del Amazona (The flower of the Amazon), la mattchiche Brésilienne – Brazilian maxixe, de Lee Orean Smith (Leo. Feist, New York). Também publicado em arranjo para pequena orquestra. “Apresentado com tremendo sucesso pelos dançarinos representates da América [EUA], Adelaide e Hughes"

La American, maxixe, de B. R, Donald (Blenda R. Donald, Minneapolis)

La Serena, maxixe, de Rulof Roger (Theo. Presser co., Philadelphia)

Uma rara exceção dentre os maxixes editados nos EUA é o “tango maxixe” Bohemian life, de A. Madeiros (sic) (Jos. W. Stern & Co., New York), com arranjo de D. Onivas para pequena orquestra, que na verdade se trata de O Boêmio, de Anacleto de Medeiros.

Além de Dengoso, outra obra de Nazareth também foi recebida com sucesso:

Bregeiro [Brejeiro], Rio Brazilian maxixe (Jos. W. Stern & Co., New York)
Arranjo de Wm. Penn. “Introduced in American by Delirio & Luis”
Também publicado em arranjo de Carl F. Williams para pequena orquestra e arranjo de Tom Clark para banda.

No mesmo ano recebeu outra edição por Leo Feist, Inc. (New York) em arranjo de W. H. Mackie para pequena orquestra; e por Will Wood (New York). “The celebrated tango-maxixe brésilien”

O mexicano na capa representa o mesmo tipo de confusão que continuaria até pelo menos 1933, quando foi lançado o filme Flying Down to Rio (estrelado por Fred Astaire e Ginger Rogers). Em uma das principais cenas o maxixe é dançado em um cassino no Rio de Janeiro (ver vídeo abaixo). Porém a música composta por Vincent Youmans, intitulada Carioca, tem mais influências centro-americanas do que brasileiras, e os músicos usam sombreros.

Brejeiro (na época grafado como Bregeiro) foi gravado ainda em 1914 pela Joan Sawyer's Persian Garden Orchestra (78-RPM Columbia A 5572), pela Conrad's Society Orchestra (78-RPM Victor 17607-A), e por Adele Levitt no rolo de piano Temporized 86124.

O site American Ballroom Companion, da Biblioteca do Congreso Americano, fornece três vídeos ensinando os principais passos do maxixe com base nos manuais de dança de 1914, e a música utilizada é o Brejeiro: primeira parte, segunda parte e terceira parte

De todos os casais de dançarinos de salão da década de 1910, o que acalçou maior projeção foi provavelmente Vernon e Irene Castle. Depois de um début bem-sucedido em Paris, eles passaram a integrar musicais na Broadway, filmes, além de apresentações em cafés e clubes. Em 1914, o casal inaugurou a academia de dança Castle House, em que ensinava à sociedade de Nova York os últimos passos da moda. Vernon e Irene Castle tiverem uma grande participação na popularização do maxixe nos EUA, e isso é evidenciado pelas seguintes músicas.

Castle Maxixe, Brazilian maxixe, de James Reese Europe e Ford T. Dabney (Jos. W. Stern & Co, NY).
Clique aqui para acessar a partitura.
“Featured by Mr. & Mrs. Vernon Castle”

James Europe regia a Europe's Society Orchestra, e foi contratado pelo casal Castle como seu band leader.

Incrivelmente, existe um trecho de filmagem do casal Castle dançando o maxixe, provavelmente em 1914. Clique aqui para assisti-lo.

Em 1939, a dupla Fred Astaire e Ginger Rogers repetiu esta coreografia no filme The Story of Vernon and Irene Castle, na cena em que dançam o maxixe.

Irene Castle ganhou fama internacional como atriz de cinema, e no Brasil chegou a aparecer em capas de partituras no início do século XX.

Castle Square, maxixe, de Chas E. Roat (Chas. E. Roat Music Co. Ltd., Battle Creek, Mich.)

Pelo menos 11 livros que ensinavam os passos do maxixe foram publicados nos EUA e na Europa nas décadas de 1910 e 1920. Um de particular importância é Modern dancing, de Vernon e Irene Castle (World Syndicate Co., New York). 

O maxixe é tratado com destaque no livro, com diversas fotos ilustrando os passos de dança, e um texto de Vernon. No parágrafo que antecede a descrição dos passos, há uma curiosa digressão sobre a pronúncia do nome da dança, que mostra como a palavra “maxixe” soava exótica para os americanos:

“The Tango Brésilienne or Maxixe”
O maxixe brésilienne é, até o momento em que escrevo este texto, a dança moderna mais recente. Só há uma grande dúvida a ser resolvida, que é como pronunciar seu nome. Seria pronunciado Maxeks, Maxesse, Mattcheche, or Mattchsche? Eu sei esta dança, mas o nome eu ainda não dominei. Só sei que quase todas as músicas sul-americanas têm “Tango Brésilien” escrito nas partituras, e algumas têm a palavra mística “Maxixe”. Os próprios brasileiros pronunciam-na Mashish, com um pequeno acento na segunda sílaba.

O casal Castle também foi mencionado em outra partitura de maxixe:

Sans Souci, maxixe brasilienne (sic) de Arthur N. Green (T. B. Harms & Francis, Day & Hunter, N.Y.)
“Introduzido pelo Sr. e Sra. Vernon Castle”, que aparecem em foto na capa, e cuja semelhança com o casal Fred Astaire e Ginger Rogers é marcante.
Gravada no mesmo ano pela Van Eps Banjo Orchestra (78-RPM Columbia 1594) e pela National Promenade Band (cilindro Edison Blue Amberol 2340)

Clique aqui para baixar a partitura.

Eram comuns matérias que mencionavam o maxixe em jornais. A edição de 1º de outubro de 1914 do New Orleans Daily trazia uma breve descrição sobre “The Beautiful Maxixe”. Na foto, os dançarinos Margaret Hawkesworth and Basil Durant.

As dançarinas também mereceram maxixes próprios:

Florence maxixe, de Carey Morgan (Jos. W. Stern & Co., New York)
Gravado no mesmo ano pela Prince’s Band (78-RPM Columbia A-1540)


Retrato de Florence Walton, reproduzido em uma caixa de charutos

Joan Sawyer maxixe, de Leonardo Stagliano (J. W. Stern & Co., New York)
Também publicado em arranjo de Carl F. Williams para pequena orquestra.
Gravado pela Prince's Band no mesmo ano (78-RPM Columbia A-5561), e em rolo do complexo Flute Coin Piano Nickelodeon (Jazzola Roll A-217)


Foto da dançarina Joan Sawyer, em 1914.

The Gaby Parisian maxixe, de T. D. Ward e Richard M. Morgenstern (Ted D. Ward, New York). Gaby foi a última partenaire de Duque, e ambos chegaram a se apresentar em Nova Iorque.

Os gêneros maxixe e tango eram vistos como um só, e essa espécie de fusão pode ser vista no título desta partitura:

Two in one (2 in 1), maxixe-tango, de Howard E. Johson (Broadway Music Corp., e Jerome H. Remick, New York)
"Featured by Rosita Mantilla assisted by B. Lloyd at the New York Winter Garden."
Para acessar a partitura, clique aqui.

E no subtítulo inflado da seguinte:

Salad dressing, one or two-step, maxixe, or tango de Antonio Bafunno (Hart Music Publishing Company, St. Louis, Mo.)
"The latest Parisian dance craze!"

Outros musicais em 1914 fizeram menção ao maxixe, ou mesmo o incluíram alguns entre seus números:

The Laughing Husband, com música de Edmund Eysler, continha um maxixe.

The Passing show of 1914, com música de Harry Carrol and Sigmund Romberg, continha o maxixe Dengoso, de Ernesto Nazareth, sob o título de Brazilian max-cheese.

Watch your step, com música de Irving Berlin, e estrelando o casal Vernon e Irene Castle. Dentre os personagens, havia um “maxixe lawyer” (advogado maxixe).

Nobody Home (1915), com música de Jerome Kern, um dos personagens era chamado Maria Maxixe.

E em fevereiro de 1915, o gênero foi promovido para o título de uma peça: The Maxixe Girl, comédia musical com música de Gus. A. Schnabel e libreto de G. Norman Reis. A peça foi apresentada na Universidade de Pittsburgh, e o maxixe era dançado pelo casal Marilynn e Bostello.

Porém em 1915, o número de maxixes publicados nos EUA caiu drasticamente, se resumindo a dois lançamentos:

Mrs. Maximum, maxixe, de Harry J. Lincoln (Vandersloot Music, Williamsport, PA)
Para acessar a partitura, clique aqui.

Crossing the bar, maxixe, tango, trot, one or two-step, de  Harry J. Lincoln (Williamsport, Pa., Vandersloot Music Pub. Co.)
Para acessar a partitura, clique aqui.

E duas compilações:

Álbum “The star dance folio. No. 15” (J.H. Remick & Co., New York)
Contendo Buenos dias (Good morning), maxixe, de Kathryn L. Widmer

Álbum “Lulu fada dance: the famous dancers collection of tangoes-maxixe-hesitation-one steps-trots etc.” (Jerome H. Remick & Co., New York)
Compilado por Malvin Franklin

Por fim, em 1916 encontrei apenas um novo maxixe publicado nos EUA:

The Midnight Trot, maxixe, de Goerge L. Cobb (Will Rossiter, Chicago)
Clique aqui para acessar a partitura.
Os dançarinos Mazie King e Ted Doner são ilustrados na capa.
"As originally introduced in America by Mazie King"

Nesse perído, o interesse pelo Brasil também se revelava em outras peças, que não eram maxixes, mas faziam referência a nosso país:

1913. Brazilian echoes, mazurka, de Frank W. Meacham (M. Witmark & Sons, New York)

1913. La brasiliana, tango, de Sylvester Belmonté (Jerone H. Remick, NY)

1914. Brazilian beauties, tango authentique, de M. K. Jerome (Waterson, Berlin & Snyder, New York)

1914. Brazilian love, tango, de Louis Ferrara (Jerome H. Remick & Co., New York; Detroit)

1914. Dance Brazilian, de Leonardo Stagliano (Jos. W. Stern & co., New York)

1914. Flor de brazil, argentino-tango one step, de Arturo de Castro (1914; E 334664; Sam Fox Pub. Co., Cleveland)

1914 Brazilian love, tango de Louis Ferrara

1915. The Brazilian Nut, one step rag, de Sol Wolerstein (Jerome H. Remick & Co., New York, Detroit)
Clique aqui para acessar a partitura.

1915. Brazilian rose (O.E. Story, Boston )

1915. The right Brazilian girl, da peça The girl from Brazil (G. Schirmer, New York)

1915 Darling, I love you so!, de A Brazilian honeymoon, de Robert Winterberg (Karczag Pub, New York). Arranjo de William J.C. Lewis.

1915. Amazonia, polka brésilienne de P. J. de O. Pinto.
Gravada pela National Promenade Band no mesmo ano (cilindro Edison Blue Amberol, 2518)

1916. The Girl from Brazil, one-step, de Sigmund Romberg
Gravado no mesmo ano pela Victor Military Band (78-RPM Victor 35591)

Outros produtos da época davam conta do sucesso do maxixe.

Vaso de porcelana Schafer & Vater ilustrando casal dançando o maxixe.

Caixa de bombons de chocolate Maxixe (Gales Chocolate Company, Los Angeles, Boston)

E diversos cartões postais ilustraram a dança.

1915. “Maxixe Brésilienne”.


1910s. (talvez) Maxixe Brésilienne. Recat & Lenore

(1910s, talvez)


 

1916. “eu aprendo o maxixe se você formar um par comigo”



1920s. The Maxixe, de Lester Ralph (Reinthal & Newman, N.Y.)

Em 1980 o artista americano Edward Plunkett cria a litografia Maxixe Au Maxime's, ilustrando a dança no bistrô francês.

O escritor americano F. Scott Fitzgerald (1896-1940) mencionou o maxixe em alguns de seus contos, e uma análise abrangente pode ser lida no texto What F. Scott Fitzgerald knew about maxixe, da pesquisadora Daniella Thompson.

E como seria de se esperar, o maxixe também entrou na obra de diversos compositores estrangeiros.

1919. 5 Pittoresken Op. 31 V. Zeitmass “Maxixe”, do tcheco Erwin Schulhoff (Jatho Verlag, Berlin). Ouça um trecho aqui.

1920s (talvez). Maxixe, de Agustín Barrios, para violão solo.

1926. Le carnaval d'Aix, fantasia para piano e orquestra op.83b, XI. Souvenir de Rio (Mouvement de Tango - Mouvement de Maxixe - Mouvement de Tango), do  francês Darius Milhaud.

1954. Maxixe für Orchester. Op. 5, do austríaco Rudolf Kattnigg (Eichmann-Verlag)

1962. Town house maxixe do compositor americano Leroy Anderson (Mills Music, New York). Clique aqui para ouvir um trecho.

(1980s, talvez). Tango maxixe, do alemão-americano Otto Luening. Manuscrito presente na New York Public Library.

2011. Rio de Janeiro suite I. maxixe, do suíço Jürg Kindle (Productions d'Oz 2000, Saint-Romuald, Québec)

Além disso, segundo o pesquisador Tom Gordon, no artigo Great-Rag-Sketches. Source Study for Stravinsky's “Piano-Rag-Music” , Stravinsky chegou a iniciar a composição de um Gran maxixe, embora tenha abandonado os esboços depois de poucos dias.

Para saber mais sobre o maxixe no Brasil, assista aos documentários As Muitas Histórias da Música Popular Brasileira - O Maxixe (1974) (clique aqui para uma transcrição completa do programa) e Maxixe – a dança perdida (1980).

 

Agradeço a Manoel Aranha Corrêa do Lago pela referência sobre Stranvinsky.

TAGS História, Obras

COMENTÁRIOS

Lucas Correia - 30.08.2013

Grande trabalho!

Não poderia deixar de parabenizá-lo pela excelente iniciativa. Parabéns pela coragem de fazer algo numa época em o que a autêntica brasilidade não é mais vista pelo próprio brasileiro, e num tempo em que essa maldita globalização destrói o que temos de melhor. Sou, como você, fã de Ernesto Nazareth, e também de Chiquinha Gonzaga, figuras-base da nossa música. Fiquei muito espantado com o acervo de capas de partituras que você tem e com os áudios que conseguiu. Entretanto, gostaria de dar uma sugestão, sem querer desmerecer seu excelente trabalho. Um trabalho muito bom. Somente senti falta do maxixe feito aqui no Brasil, especificamente aqui no Rio de Janeiro. Quem sabe essa não poderia ser uma sugestão? Abraços e, novamente, parabéns.

Luiza Sawaya - 29.04.2013

Que tratado!

Alexandre, eu também estou de queixo caído com todo o material que você levantou nesses anos de corrida atrás do maxixe e cia. ltda. Um dia você há de me contar as suas aventuras e andanças de Sherlocke Holmes que bem mereciam um livro. As capas das partituras são lindas. As confusões com música mexicana... tudo isso explica o longo percurso do sucesso. Com admiração. Luiza

Beth Ernest Dias - 02.03.2013

Estou feliz !

Alexandre, que pesquisa linda, séria e elucidativa ! Parabéns e muito obrigada ! Gostei muito das tres partes ! Um grande abraço, Beth

Newton Alfredo Ribeiro de Noronha - 17.10.2012

Esplêndida pagina (Blog)

Minha alegria foi imensa assim como minha surpresa. A sua página, com tudo o que se gostaria de saber de Nazareth, é uma das boas coisas da internet. Vale a pena ser seu correspondente para receber a beleza do talento de Nazareth e a competência de Alexandre. Parabéns e obrigado.

Laura Macedo - 23.09.2012

Alexandre, depois de oito anos de pesquisa, agora, é só correr para o abraço:)) Estou aqui para parabenizá-lo/abraçá-lo pela grandeza da pesquisa em todos os sentidos: o aprofundamento do tema; a interface estabelecida; a riqueza das fontes (fotos, partituras, vídeos, links citados...), enfim, uma pesquisa que já é histórica e permanecerá com este status por muito tempo. A sociedade em geral e, em especial, os pesquisadores da área cultural/musical agradecem tão louvável trabalho. Grande abraço da amiga, Laura Macedo.

Carola - 22.09.2012

OS MAXIXES NO...

Hallo Alexandre, how beautiful! I discovered this by accident. Just the collection of covers is delightful!!! :-) Carola

Mara Dias - 16.09.2012

Estou estupefata!!!!!!

É impressionante como Nazareth contribui para a derivação de nossa música brasileira, embora no texto, todas as figuras sejam mais relacionadas às mexicanas (vide sombreros). Parabéns Alexandre por sua pesquisa extremamente detalhada e por sua enorme contribuição. Estou no Canadá no momento e imagino como vc conseguiu todas essas capas de partituras. Vc deve ter demorado muito tempo para fazer um trabalho tão bem feito e detalhado. Congratulations! Muito obrigada por me enriquecer com mais essa pesquisa. Um grande abraço Mara Dias

COMENTAR