MERCEDES REIS PEQUENO (1921-2015)

Alexandre Dias 28.08.2015

No último dia 3 de agosto, faleceu uma das musicólogas mais importantes do Brasil: Mercedes Reis Pequeno (1921-2015), pesquisadora pioneira da musicografia brasileira.

Segundo o site da Academia Brasileira de Música, cuja Cadeira No.7 era ocupada por ela, D. Mercedes de Moura Reis Pequeno diplomou-se pela Escola de Música da Universidade do Brasil (atual UFRJ) em 1937, e colaborou na Revista Brasileira de Música, a convite de Luiz Heitor Corrêa de Azevedo, de 1940 a 1941. Completou o curso de Biblioteconomia do DASP e, em 1942, ingressou por concurso na carreira de bibliotecário do MEC - Instituto Nacional do Livro/INL, trabalhando com Augusto Meyer.

Convidada pela União Pan-americana, atual OEA, exerceu, de 1947 a 1949, a função de assistente do musicólogo Charles Seeger, então diretor da divisão de música da entidade. De volta ao Brasil, em 1951 iniciou o trabalho de criação e organização da Divisão de Música da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, graças ao apoio do então diretor da Biblioteca, o escritor Eugênio Gomes, e à compreensão do diretor do INL, construindo uma das mais importantes bibliotecas de música da América Latina.

Chefiou a Divisão de Música até 1990, quando se aposentou. Durante sua gestão organizou e apresentou inúmeras exposições comemorando efemérides musicais nacionais e estrangeiras, sendo que dezoito com catálogos impressos, focalizando a vida e a obra de compositores.

Um de seus trabalhos mais citados, e considerado até hoje a maior referência na área, é o verbete “Impressão Musical no Brasil”, que escreveu para a Enciclopédia da Música Brasileira (1ª ed. 1977; 2ª ed. 1998), fornecendo dados precisos sobre as inúmeras editoras de partituras que existiram no Brasil.

Outro trabalho frequentemente citado é a Bibliografia Musical Brasileira, publicada em 1952 em colaboração com os musicólogos Cleofe Person de Mattos e Luiz Heitor, abrangendo o período de 1850 a 1950. Nos últimos anos, D. Mercedes atualizou este grande catálogo, e incluiu publicações até o ano 2000, que agora totalizam cerca de dez mil itens.

Seu nome faz parte da história de Ernesto Nazareth, pois foi D. Mercedes a primeira a gerar um catálogo completo de sua obra, por ocasião da exposição comemorativa do centenário deste compositor em 1963. Este catálogo foi a pedra fundamental para todas as pesquisas subsequentes, e a ela somos imensamente gratos (assista aqui a uma rara filmagem desta exposição feita na época, e acesse aqui uma série de fotos dos painéis expostos).

Nesta entrevista de Mercedes Reis Pequeno à Revista Brasileira de Música, em 2010, é possível conhecer mais detalhes sobre sua trajetória.  http://rbm.musica.ufrj.br/edicoes/rbm23-1/rbm23-1-10-memoria-entrevista.pdf

Listamos abaixo todas as exposições que D. Mercedes coordenou como chefe da Divisão de Música da Biblioteca Nacional, e fornecemos os links para download de cada um dos preciosos catálogos, em pdfs,, disponíveis no site da BN.


Capa do catálogo da exposição "Rio Musical" (1965)

Literatura musical - séculos XVI, XVII e XVIII (1954)

Edições raras de obras musicais (1955)

Mozart 1756-1956 (1956)

Georg Friedrich Haendel 1759-1959 (1959)

Joseph Haydn 1809-1959 (1959)

Frederyk Chopin (1960)

Música no Rio de Janeiro Imperial (1962)

Ernesto Nazareth (1963)

Alberto Nepomuceno (1964)

Gaspar Viana e Glauco Velasquez (1964)

Rio Musical (1965)

José Maurício Nunes Garcia (1967)

Francisco Braga (1968)

Mário de Andrade (1970)

Beethoven no Rio de Janeiro (1970)

Três Séculos de Iconografia da Música no Brasil (1974)

Brasil 1900-1910 vol.2 (1980)

Houve também as seguintes exposições, cujos catálogos não encontramos online: I Decênio da Divisão de Música e Arquivo Sonoro (1961); Darius Milhaud (1977); e Mozart no Rio de Janeiro Oitocentista (1991).

TAGS História

COMENTAR