COMPOSIÇÃO
1914
1ª PUBLICAÇÃO
1914
Sagaz, tango brasileiro brasileiro publicado em 1914 pela Casa Arthur Napoleão & Cia., "dedicado ao bom amigo Ulysses Bellem". Segundo consta em seu manuscrito autógrafo, foi composto em 13 de maio de 1914, indicando que o período entre a composição de uma peça e sua publicação podia ser bem curto. Até 2012 recebeu pelo menos seis gravações.
Em sua famosa palestra proferida em 17/11/1926 no Theatro Municipal de SP, o musicólogo Mário de Andrade afirmou sobre o tango Sagaz:
(...) a melodica européa não é rara na obra de Ernesto Nazareth. Si, por exemplo, a gente executa a 1ª parte do Sagaz fazendo, perfidamente, de cada tempo do dois-por-quatro, um compasso ternario, dá de encontro com a mais allemã das valsas deste mundo. Não pensem que isto é censura minha. É evidente que não tenho tempo para estar bancando o purista e o patriotico. Acho mesmo um encanto humano em perceber elementos estranhos numa dessas joias da invenção popular, seja uma farsa de Piolin, como Do Brasil ao Far-West, seja o maxixe recente Cristo nasceu na Bahia, onde se intromette, a horas tantas, um meneio melodico norte-americano. Minha opinião é que o destino do homem fecundo não é defender os thesouros da raça, mas augmentá-los, porém".
Curiosamente, este assunto é tratado com maior detalhe, em tom de desabafo, em carta enviada ao poeta Manoel Bandeira três meses antes (27/08/1926).
"(...) Não tenho feito nada que preste. Nem a conferência inda não comencei. Foi adiada sine dia e por horas só tomei umas notas. Meu Deus! Manú, que dificuldade arranjar alguma coisinha de sabido sobre o maxixe, você nem imagina! Quanto ao Nazaret (sic) meio que ando desapontado com a música dele. Não que não seja extraordinária. Estou mesmo convencido que certas danças dele são tão admiráveis que nem as de Chopin por exemplo, de que aliás a influência é muito grande sobre Nazaret porém o que me assustou é a falta de caráter melódico brasileiro de Nazaret. Uma feita já pensei creio mesmo que escrevi que a melodia de Nazaret era carioca e de influência portuguesa. Pois nem isso! É um pouco de alemã, valsas de Schumann, Brahms e um pouco de toda a gente. Raramente se topa com uma frase um torneio de caráter brasileiro. E mesmo ritmica bem mais característica, inda tem um bodum forte de habanera, básica talvez do maxixe como foi do tango argentino. É uma surpresa dolorosa que se tem mudando pra ritmo de valsa ou de polca os "tangos" do Nazaret. Desaparece completamente a brasilidade deles. Inda não tentei o mesmo com Tupinambá nem com Souto e os outros porque palavra que estou com medo e sempre é tempo pra gente se desiludir. Ando também iniciando por isso um estudo que durará minha vida e me parece importante: quais são os torneios melódicos característicamente (não exclusivamente se entende) brasileiros. Tenho já anotado alguns. Porém um estudo desses deveria ser comparativo e isso exigiria um trabalho imenso pois que em nehuma música nacional se tentou uma especificação dessas e eu teria que fazer tudo. Enfim: se vive e isso é bom. Com um abraço do Mário"
Este tema complexo joga luz sobre a necessidade de se compreender em maior profundidade as influências multiculturais que culminaram na música de Nazareth.