COMPOSIÇÃO
1924 (Circa)
1ª PUBLICAÇÃO
1924
O alvorecer, tango de salão publicado originalmente em 31 de dezembro de 1924 pela Casa Carlos Gomes. Seu gênero é único dentre a obra de Nazareth e possivelmente faz referência à tradição das músicas de salão européias vigentes no século XIX, compostas para o ambiente dos saraus. A peça foi dedicada “ao prezado amigo e colega Eduardo Souto”, dono da Casa Carlos Gomes, na qual Ernesto trabalhou como pianista demonstrador de partituras de 1919 a 1925.
Eduardo Souto (1882-1942), compositor do famoso tango brasileiro O despertar da montanha, constitui um personagem importante no final da carreira de Ernesto Nazareth. Além de contratá-lo por 6 anos como pianista demonstrador, Souto publicou através de sua editora 10 músicas de Nazareth. E, segundo o biógrafo Luiz Antonio de Almeida, diversas pessoas compareciam à Casa Carlos Gomes apenas para ouvir Nazareth tocar, deixando por vezes intransitável o trecho da rua correspondente à loja. Foi nesta época e no mesmo estabelecimento que o compositor Francisco Mignone encontrou-se pela segunda vez com Nazareth, ouvindo-o tocar e recebendo dicas de interpretação do próprio autor.
No entanto a maior contribuição que Eduardo Souto possa ter realizado à memória de Nazareth foi convidá-lo para gravar 4 músicas em 1930, quando era diretor artístico da gravadora Odeon. O rei do tango brasileiro, já bastante afetado pela surdez, gravou suas peças Apanhei-te, cavaquinho (Odeon 10.718-a), Escovado (Odeon 10.718-b), Turuna e Nenê, consistindo nos únicos registros fonográficos de Nazareth ao piano solo (no entanto existem também outras 4 gravações de Nazareth tocando com Pedro de Alcântara ao flautim em 1912). Turuna e Nenê foram arquivadas na época pois não passaram na prova de qualidade da gravadora. No entanto graças ao trabalho do musicólogo Aloysio de Alencar Pinto, que possuía os acetatos originais, e do produtor José Silas Xavier, estas duas gravações foram lançadas no LP Os Pianeiros (FENABB 114) em 1986.
O alvorecer é um tango da maturidade de Ernesto Nazareth, publicado quando o compositor tinha 61 anos. Tendo sido gravada apenas uma vez até 2012, consiste em uma pérola pianística ainda pouco conhecida e que se destaca de seus outros tangos pelo caráter calmo e com diferentes construções pianísticas.
Como se pode constatar através do manuscrito autógrafo, o título original de O alvorecer na verdade era Ensimesmado. Outra peça que também teve seu título modificado ao ser publicadas foi o fox-trot Até que enfim!… (Time is Money, no manuscrito).
Embora seja atualmente uma peça pouco conhecida, O alvorecer provavelmente integrava o repertório de concerto de Nazareth, que a executou em pelo menos três recitais, segundo o biógrafo Luiz Antonio de Almeida:
Em 1926, no Club Campineiro, em Campinas (SP) em um recital com 20 peças.
Em 17 de julho de 1926, no Salão Nobre do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (SP) em um recital com 23 peças.
Em 1931, em estúdio de rádio não-identificada, no Rio de Janeiro em um programa com três peças.