QUERIDO POR TODOS (PARTE 2): PARA ALÉM DAS RODAS DE CHORO
Alexandre Dias 07.05.2012
No post passado vimos que Ernesto Nazareth recebeu diversas homenagens de seus colegas do meio erudito, que utilizaram muitas vezes o neologismo “Nazarethiana”.
Hoje veremos que no meio popular sua admiração é manifestada através de títulos como “Se eu fosse Nazareth” e “Recordando Nazareth”.
Em sua famosa palestra em homenagem a Ernesto Nazareth em 1926, Mário de Andrade afirmou que “o compositor teve a glória de ser tão familiar na pátria inteirinha, que todos falavam ‘o Nazaré’, que nem se trata um primo, um sobrinho e os amigos do nosso coração.”
Algumas homenagens que recebeu em vida atestam isso. É o caso da polca-tango de difícil execução Nazareth de Antônio Cardoso de Menezes (avô de Carolina Cardoso de Menezes), dedicada “ao talentoso compositor e amigo Ernesto Nazareth” na década de 1920. Alguns anos antes, possivelmente retribuindo a dedicatória do tango Carioca, o ator e cantor Olympio Nogueira compôs sua única peça conhecida: Suíte! para piano solo, em cujo manuscrito consta "ao bom camarada o maestro Ernesto Nazareth, offerece o autor esta insignificância. Rio 11-5-1914".
Em 1920, Theophilo Magalhães dedicou seu tango Não vou n'isso!... Op.25 “Ao rei do tango Ernesto Nazareth”. Em 1926 João Bifano dedicou “ao inspirado compositor Ernesto Nazareth” seu tango Só no Nazareth, e no exemplar da coleção do homenageado, consta a dedicatória manuscrita “como demonstracção de grande admiração, offerece ao primus inter pares dos compositores brasileiros Ernesto Nazareth, o autor”. E ainda nesta época A. Paraguassú dedicou seu tango Jovial "ao insuperável compositor Ernesto Nazareth”. Em 1930, Teotônio Correa teve seu Bancando o Nazareth gravado pelo grupo Três Sustenidos.
Grandes instrumentistas depois prestaram suas homenagens, como Garoto (Recordando Nazareth), Carolina Cardoso de Menezes (Relembrando Nazareth), Luperce Miranda (Lembrando Nazareth, que Luperce tocava ao piano), Tia Amélia (Nazareth, e Cheio de Truques, que faz menção aos desafios técnicos na obra de Nazareth).
E até meados do século XX vemos várias outras homenagens, de Juventino Maciel (Homenagem a Nazareth), Armandinho Neves (Recordando Nazareth), Antonio Rago (Saudoso Nazareth), Henrique Simonetti (Páginas Brasileiras No.6- Homenagem a Nazareth), Muraro (Portrait de Ernesto Nazareth), Nabor Pires Camargo (Si eu Fosse Nazareth) Ângelo Scorza Neto (Retrato de Nazareth, Souvenir a Nazareth, e Travesso Polichinelo - de Nazareth a Villa-Lobos),
Em tempos recentes as homenagens só aumentaram, com músicas como Ernesto Nazareth (presente no Anuário do Choro I, de Maurício Carrilho), Homenagem a Nazareth de Dominguinhos e Anastácia, Um Tom pro Ernesto de Armandinho Macedo e Yacoce, e Bonbon (Tango in the style of Nazareth) do compositor americano Hal Isbitz. Vejam abaixo outras homenagens:
	
	Antonio Adolfo - Eternamente Nazareth
	Arthur Athayde e Ormindo Fontes "Toco Preto" - Lembrando Nazareth
	Canhotinho  - Evocação a Nazareth
	Clovis Pereira - Lembrando Nazareth
	Elisa Meyer Ferreira - Assobiando
	Horvildes Simões - Recordando Nazareth
	Jorge Cardoso   Ernesto Nazareth no Cerrado
	José Luis de Jesus - Recordando Ernesto Nazareth
	Leandro Braga  - Nazareth
	Leory Amendola - Lembrando Nazaré
	Luciano Alves - Pipocando
	Maria Alice Saraiva - Recordando Nazareth (re-intitulado "Sonhando com Nazareth")
	Monique Aragão - Nazaretheando
	Neusa França - Recordando Nazareth
	Petrônio Santos - Ernesto, o Nazareth
	Renan Bragatto - Grande Nazareth
	Roberto Barbosa - Evocação a Nazareth
	Silvia Goes - Preguiça medonha (menino, sai da rede) (dedicada a Ernesto Nazareth), baseada no tango Escorregando
	Torhé - Lembrando Nazareth
	Valmar Amorim - Valsa a Nazareth
	Zé Paulo Becker - De Pernambuco a Nazareth
Por fim, vejam a letra de Relembrando Nazareth, de Capiba e Luis Tatit, que faz uma deliciosa brincadeira com os títulos de diversas músicas
	Insuperável
	Esse turuna vitorioso
	Sem ser espalhafatoso
	Diz na música o que quer
	É arrojado
	E todo cheio de capricho
	Já falou até de bicho
	De pinguim e jacaré
	De beija-flor ele falou
	De pirilampo já falou
	E escorregando e respingando
	Foi virando o que ele é
	Desengonçado
	Com suas notas inclinadas
	Só diziam pro Ernesto
	Pinta as hastes mais de pé
	Digo de improviso
	Que é melhor que paraíso
	Quando sinto que harmonizo
	Nazaré
	Mas sei que é duvidoso
	Perigoso e tenebroso
	Quando escolho tantas notas
	Que elas todas
	Vão parar no rodapé
	Então não caio noutra dessa
	E quando vou escrever uma peça
	Num compasso que eu não possa atravessar
	Polca a polca vou cantando
	Até tudo ajustar
	É adorável
	Que ele lá todo cutuba
	E eu aqui todo capiba
	Já podemos conversar
	E que o brejeiro
	De seu beijinho de moça
	Vire um turbilhão de beijos
	E desejos a saciar
	E que mau-mau vire bom-bom
	E que odiar vire odeon
	E todo tango brasileiro
	Tenha um pouco do fon-fon
	E é uma delícia
	Ver as hastes inclinadas
	Todas desequilibradas
	E ele nunca perde o tom
	Até que enfim
	Eu vivo bem com a dor secreta
	Pois ouvi o sinal de alerta
	Que sua doce elegia me deixou
	Que não existe a dor errada
	E a dor correta
	A dor antiga do poeta
	A dor moderna elegantíssima
	Do ator
	Que a dor é tudo
	Que nos faz ficar em dia
	Com a saudade e a alegria
	Com a letra e a melodia das canções
	É o labirinto onde o choro chora e ri
	Ri e chora, chora tanto
	Chora até poder sair
	 
Na semana que vem encerraremos esta trilogia com músicas diversas que, sem serem homenagens diretas, citam Nazareth.
Atualizações:
A discografia foi amplamente atualizada. Temos agora mais de 2.500 registros catalogados de gravações comerciais, das quais cerca de 2.200 estão disponíveis para audição online.

 
		




COMENTAR