Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
UM DIA AGITADO!... (1889)
UM DIA AGITADO!... (1889)
Em 9 de novembro, sábado, aconteceram dois fatos que, antecedendo o fatídico episódio do dia 15, também deixaram o seu registro nos anais da nossa História. O primeiro deu-se à tarde, em um dos salões do Paço Imperial, quando apresentaram ao Monarca um fonógrafo de último tipo. E o segundo à noite, com a realização de um baile na Ilha Fiscal, na Baía de Guanabara.
Antes de começar a experiência, foi explicado ao Imperador a parte mecânica do aparelho, que consistia num registrador e num reprodutor. O receptador era uma corneta acústica invertida, com o fundo tapado por um diafragma metálico, tendo ao centro uma agulha fina de marfim, presa por uma mola. O registrador, ou melhor, o “fonograma” (substituído pelo disco dos nossos dias), era um cilindro de cera endurecida, cuja superfície se deslocava, por meio de um movimento manual de rotação, sob a ponta de marfim. Esta, quando os sons se reproduziam à entrada do receptor, traçava na cera um sulco de profundidade variável. O reprodutor compunha-se de um diafragma vibratório ligado à agulha. Prestados esses esclarecimentos, a máquina foi posta em funcionamento, reproduzindo, em vários fonogramas, a voz do Visconde de Cavalcante, do Conde de Villeneuve, do médico Dr. Charcot, do Sr. Lourdelet, do Barão de Marajó, do Senador Pereira da Silva, do Marechal Âncora, do Sr. Pinheiro Chagas e dos nossos ministros em Paris e Londres, respectivamente Barão de Penedo e Visconde de Arinos.
D. Pedro II ficou extasiado, declarando haver reconhecido perfeita-mente a voz de todos eles.
Perguntado ao Comendador Carlos Monteiro (o dono da máquina) se não tinha algum fonograma de canto ou de instrumento de música, foi posto no aparelho um cilindro que tocou o dueto da ópera “Pêcheur de perles”, de Bizet, cantado por artistas portugueses e, em seguida, duas peças de piano, dois solos de cornetim e o Hino Nacional português.
O Imperador, que acompanhava com o maior interesse a todas essas experiências, declarou que também queria gravar, e, logo que foi convenientemente preparado um cilindro, proferiu algumas palavras, salientando que “estava muito satisfeito com o que havia presenciado”. Instantes depois, o fonógrafo repetia com clareza todas as palavras que acabavam de ser gravadas. Foi um sucesso.
Charles J. Dunlop
DUNLOP, Charles J. Rio Antigo. III Volumes. Cia. Editora e Comercial F. Lemos. Rio de Janeiro, 1956;