Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
DARIUS MILHAUD (1917)
DARIUS MILHAUD (1917)
Em fevereiro, desembarcou na Capital Federal o jovem músico francês Darius Milhaud (1892/1974), na condição de auxiliar e acompanhante do poeta e ministro plenipotenciário Paul Claudel (1868/1955).
Pouco depois, passeando pela cidade, Milhaud ouviu Nazareth tocando na sala de espera do Odeon. E suas impressões, a esse respeito, terminaram, anos mais tarde, registradas em “Notes sans musique”, seu livro de memórias.
Os ritmos dessa música popular me intrigavam e fascinavam. Havia na síncope uma imperceptível suspensão, uma respiração “nonchalante”, uma ligeira parada cuja apreensibilidade se me afigurava muito difícil. Comprei então grande quantidade de maxixes e tangos, e esforcei-me por tocá-los com suas síncopes que passam de uma das mãos à outra. Meus esforços foram recompensados e pude, enfim, exprimir e analisar este “quase nada” tão tipicamente brasileiro. Um dos melhores compositores de música desse gênero, Nazareth, tocava piano na sala de espera de um cinema da Avenida Rio Branco. Sua execução fluida, inapreensível e triste ajudou-me igualmente a conhecer mais profundamente a alma brasileira.
Darius Milhaud
REVISTA BRASILEIRA DE MÚSICA. Ernesto Nazareth - Flagrantes. Aloysio de Alencar Pinto. Ano II - nº 6. Rio de Janeiro, julho / setembro de 1963;