Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
ODEON (1909)
ODEON (1909)
E aproveitando a nova fase de popularidade, Ernesto Nazareth editou, por conta própria, o “tango” intitulado Odeon, dedicado à Zambelli & Cia., proprietária do cinema; tornando-se, pouco tempo depois, em um dos seus maiores sucessos.
Por volta de 1945, portanto sem a autorização do autor, saiu publicada junto à partitura de Odeon, a letra de um certo Ubaldo Maurício, cujos versos, de tão banais, não merecem, aqui, nem mesmo a reprodução de duas linhas. E o pior de tudo é que, a partir de então, passamos a encontrar nos créditos de várias gravações, ainda que em versão exclusivamente instrumental, o nome desse senhor na condição de co-autor. Inclusive, para meu total espanto, tem gente até hoje cobrando direitos autorais de Odeon em nome de herdeiros desse cidadão!...
Em 1966, o poeta Vinícius de Moraes (1913/1980), a pedido de Nara Leão (1942/1989), também colocou letra no Odeon, sendo gravada, posteriormente, pela própria cantora em seu disco “Ora bolas”. Os primorosos versos são os seguintes:
ODEON - LETRA
I Parte
Ai quem me dera
o meu chorinho
tanto tempo abandonado,
e a melancolia que eu sentia
quando ouvia
quem me fazer tanto chorar.
Também me lembra
tanto, tanto,
todo o encanto
de um passado,
que era lindo,
era triste, era bom
igualzinho a um chorinho
chamado Odeon.
Terçando flauta e cavaquinho
meu chorinho se desata.
Tira da canção do violão
esse bordão
que me dá vida
e que me mata.
É só carinho
o meu chorinho
quando pega e chega
assim devagarzinho
meia-luz, meia-voz, meio-tom
meu chorinho chamado Odeon.
II Parte
Ah, vem depressa
chorinho querido, vem
mostrar a graça
que o choro sentido tem
quanto tempo passou
quanta coisa mudou
já ninguém chora mais por ninguém.
Ah, quem diria que um dia,
chorinho meu, você viria
com a graça que o amor lhe deu
pra dizer “não faz mal,
tanto faz, tanto fez,
eu voltei pra chorar com vocês.”
I Parte (para finalizar)
Chora bastante meu chorinho
teu chorinho de saudade.
Diz ao bandolim pra não tocar
tão lindo assim
porque parece até maldade.
Ai, meu chorinho
eu só queria
transformar em realidade
a poesia
ai que lindo, ai que triste, ai que bom
de um chorinho chamado Odeon.
III Parte
Chorinho antigo, chorinho amigo
eu até hoje ainda persigo essa ilusão
essa saudade que vai comigo
e até parece aquela prece
que sai só do coração.
Se eu pudesse recordar
e ser criança
se eu pudesse renovar
minha esperança
se eu pudesse me lembrar
como se dança
esse chorinho
que, hoje em dia,
ninguém sabe mais.