Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
BATUQUE (1913)
BATUQUE (1913)
Pela Casa Arthur Napoleão (Sampaio, Araújo & Cia.), veio à luz o “tango característico” Batuque (Ch. 7397), dedicado ao pianista e compositor Henrique Oswald (1852/1931). Composto por volta de 1901, está entre as obras-primas de Ernesto Nazareth. E tanto em elepês quanto em CDs, já recebeu cerca de 16 registros; o que a insere no rol das músicas brasileiras escritas exclusivamente para piano e de fatura eminentemente erudita mais gravadas, até hoje.
Foi no antigo Cinema Odeon. Nazareth tocava na vasta sala de espera. Em tardes de chuva, o meu prazer era escutal-o horas a fio, sentado ao lado do piano, indifferente a quem entrava e sahia, sem mesmo pensar no que lá dentro se desenrolava na téla. O que eu queria era ouvil-o, gozar nota por nota das suas producções admiraveis, eu que em rapaz tentei perpetrar os seus tangos num piano, de orelhada. E o pianista notável, que teria sido grande e millionário noutra terra, gostava de tocar só para mim, tirar effeitos estupendos para o meu assombro, chegando a repetir trechos, compassos, composições diffíceis, como se fôra contratado pela empresa do cinema para a extasia dos meus ouvidos gratissimos.
Um dia, quando cheguei, avistei um senhor de idade, de pé junto ao piano, embevecido na contemplação do artista. Nazareth executava com mais cuidado e mais alma. Quem seria aquelle? De certo um “dilletante” illustre, um mestre, um crítico de nomeada. Aproximei-me. O pianista interrompeu a audição. Apresentou-me. Era Henrique Oswald. O fino compositor do “Il neige”. Já lá estava há uma hora a deleitar-se com o mágico do “Batuque”. Saímos juntos. Ernesto havia acabado de offerecer ao mestre a sua obra-prima.
E Oswald a dizer-me com sua falla macia de quem tem passado a vida nos prados florescentes onde viceja a arte: “ - É admirável esse moço. Que música elle faz! Eu mesmo seria incapaz de interpretal-a com aquella mestria, aquelle prodígio de rithmo. E aqui, perdido nesta indifferença...”
Gastão Penalva
EXCELSIOR. Ernesto Nazareth. Gastão (Sebastião Fernandes de Sousa) Penalva. Rio de Janeiro, março de 1934;
É um grande batuque. O batuque mais conhecido é o Batuque de Nepomuceno, Lorenzo-Fernândez, que faz um barulho infernal!... Mas, esse Batuque (de Nazareth) tem toda a característica de batuque, com uma introdução que o apresenta. Infelizmente, muitos estudantes pensam no batuque a partir da primeira nota até a última, esquecendo, muitas vezes, que Nazareth tem uma variedade de pensamento, uma variedade de sensibilidade... E é isso que estou aprendendo. Ainda não cheguei lá, mas vou chegar lá, nessa capacidade de sentir essas mudanças de espírito musical que acontece no Nazareth. Então, esse Batuque... Realmente... Manda tocar, por favor!...
Heitor Alimonda
ALIMONDA, Heitor. Entrevista concedida ao produtor Lauro Gomes. Programa “Música e Músicos do Brasil”, Rádio MEC, Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2001;