Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
HILDA FERRAZ RÊGO
HILDA FERRAZ RÊGO
Em 1985, Hilda Ferraz Rêgo, ex-aluna do colégio de “Joanninha” e antiga vizinha de São Christóvão, aos 98 anos, prestou-me o seguinte depoimento:
Sou filha de Cândido Araújo Vianna de Figueiredo, neto do Marquês de Sapucaí, e Luiza de Oliveira Figueiredo, descendente de Tiradentes e Chica da Silva. Minha casa ficava no Morro do Pedregulho, próxima ao reservatório de água, em São Cristóvão. E a primeira pessoa da família Nazareth que conheci foi a Zillah, sobrinha do compositor. Ela tinha um irmão tuberculoso (Gilberto) e na época se dizia que sumo de bananeira, soro de bananeira, podia ajudar no tratamento da tuberculose. Nós tínhamos uma grota cheia de bananeiras e minha mãe dava desse sumo para que Zillah levasse ao irmão. Daí, as famílias acabaram ficando muito amigas. Zillah, Eulina, Julita... Logo depois veio o Ernesto Nazareth, a “Dorica” (Theodora Amália), que era muito retraída, falava do jeito calmo da Julita, e a “Nhanhã” (Guilhermina Adeláide).
Nazareth morava na Rua Esperança (quem residia nesse endereço era “Vasquinho”), perto da São Januário. Ele era um homem muito bonito. Quando tocava, caía sobre sua testa uma mecha de cabelo. Ele fazia músicas de improviso para que todos dançassem. Muito dado, agradável, alegre, tocava a noite toda de bom grado. Me lembro de uma música dele que tinha uma letrinha assim: “Lulu, sai daí que você cai!... Lulu, sai daí que você cai!...” Esse “Lulu” era filho de Dona “Joanninha”, também parente dos Nazareth, muito amiga nossa, irmã da “Dorica” e da “Nhanhã”.
Por volta de 1908, meu pai herdou de uma irmã uma casa em Copacabana, na Rua Goulart (depois Avenida Prado Júnior). E dessa casa saímos, mais ou menos, em 1927. Meu marido, Gabriel Ferraz Rêgo, foi excelente pianista. Nós tínhamos, em Copacabana, um piano de armário, Pleyel, no qual meu marido tocava e (Arthur) Rubinstein ficava a ouvi-lo espantado.
Que eu me lembre, só a “Nhanhã” continuo a nos visitar em Copacabana. Meu marido ía buscá-la e levá-la em casa.
Hilda Ferraz Rêgo
FERRAZ RÊGO, Hilda. Entrevista concedida ao autor. RJ, 12 de outubro de 1985;
Certa vez, Dona Julita me disse que sua irmã Zillah era afilhada de Luiza de Oliveira Figueiredo, mãe de Dona Hilda. Portanto, a quase centenária senhora possivelmente confundiu-se ao dizer que a primeira pessoa dos Nazareth que conheceu foi Zillah e que mais tarde “as famílias acabaram ficando muito amigas”. E tem mais: se Luiza foi madrinha de batismo de Zillah e Hilda estudou no colégio de “Joaninha”, por volta de 1898, a amizade entre os dois clãs obviamente seria anterior à doença de “Gigi”.
Uma curiosidade: em a Grande Enciclopédia Delta Larousse (1973), o verbete dedicado ao pintor Décio Vilares (1851/1931) apresenta-nos, como ilustração, o retrato de uma dama da alta sociedade carioca, do século XIX, e que seria da família Azambuja. Trata-se, contudo, de Luiza de Oliveira Figueiredo. Foram feitos dois quadros com a bela modelo, em posições diferentes. Um, o do verbete, pertence ao acervo do Museu de Bellas Artes, e o outro, quando da minha entrevista, ainda achava-se pendurado na parede do apartamento da família Ferraz Rêgo, em Icaraí, Niterói.