Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
RECITAL NO SALÃO NOBRE DA PREFEITURA (1932)
RECITAL NO SALÃO NOBRE DA PREFEITURA (1932)
Aos 26 de fevereiro, sexta-feira, no curioso horário de 22 horas, Ernesto Nazareth levou a público, no Salão Nobre da Prefeitura de Livramento, o derradeiro recital de sua carreira. Quanto ao programa, é por mim desconhecido, mas não deve ter sido muito diferente dos dois anteriores.
O RECITAL DE PIANO DO COMPOSITOR
ERNESTO NAZARETH
De passagem por esta cidade para o Rio, via Montevidéo, dará um recital de piano, hoje, ás 22 horas, no Salão Nobre da Prefeitura, o conhecido compositor patricio Ernesto Nazareth. A imprensa toda do paiz, notadamente a do Rio, S.Paulo e Porto Alegre, em longas cronicas artisticas, elogiam sem rebouços o grande nome do compositor patricio Ernesto Nazareth. O “Estado do Rio Grande”, do insigne compositor, quando de sua estadia em Porto Alegre, diz o seguinte: “O desideratum a que se propõe o grande musicista brasileiro Ernesto Nazareth, foi coroado de exito. O seu recital de ontem na Sala Beethoven, no genero o primeiro que assistimos, consistiu sómente de musica nossa, da autoria do concertista. Técnica segura a par de uma verdadeira alma de artista, o sr. Nazareth revelou ao publico gaucho do que é capaz a musica indigena. Com referencia á arte nacional, podemos afirmar que é quasi nada conhecida para o Sul do Brasil, não sendo surpresa para o Centro e para o Norte o que ela de bom tem produzido. Por isso a ideia do sr. Nazareth revelando aos pampas a sua grande alma, merece, não só dos amantes da musica fina, como todos os bons brasileiros: o mais decidido apoio. O programa estava dividido em tres partes: peças de estilo, valsas e tangos. Da primeira parte não é possível destacar esta ou aquela, pois se nos deu ‘Extase’, um romance delicadissimo, executou magistralmente ‘Poloneza’, onde exibiu as cintilações do seu talento de escól. Da segunda parte constituida de valsas, genero de musica que revela as sutilezas da alma de quem as compõe, destacaremos ‘Passaros em Festa’. A terceira parte constou de tangos brasileiros, paginas tipicas, onde o recitalista traduz de uma maneira admiravel a sua prodigiosa qualidade de compositor. Casa bôa, sendo os numeros executados em um magnifico piano de cauda ‘Essenfelder’.”
REPUBLICANO (O). Ano XVI - nº 829. Livramento, 26 de fevereiro de 1932;
Há suspeitas, contudo, de que o maestro, muito abatido, não tenha se apresentado em Santana do Livramento.
Não posso realmente afirmar isso, mas alguém me disse, não me lembro quem, que esse recital acabou não acontecendo. O Nazareth não estava nada bem. E você (Luiz Antonio) ainda me diz que isso pode ter, de fato, acontecido, pela quantidade que sobrou de ingressos, intactos, sem nenhuma entrada destacada...
Maria Alice Saraiva
SARAIVA, Maria Alice da Silva Pinto. Entrevista concedida ao autor. RJ, 8 de setembro de 1985;