Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
NAZARETH E O CINEMA ODEON (1909)
NAZARETH E O CINEMA ODEON (1909)
As primeiras exibições de cinema no Brasil, como já foi dito, anteriormente, realizaram-se no “Salão de Novidades Paris no Rio”, em 1897.
Porém, a partir de março de 1907, com a energia produzida pela usina de Ribeirão das Lages e conseqüente melhoria na distribuição de energia elétrica, deu-se, em poucos meses, um grande boom quanto à disseminação de salas de exibição; estando as de maior prestígio situadas à recém concluída Avenida Central (depois Avenida Rio Branco).
Aos 16 de agosto de 1909, inaugurou-se à mesma avenida, nº 137, esquina com Rua Sete de Setembro, o mais luxuoso cinema da cidade: o Odeon. De propriedade de certa “Empreza Zambelli & Cia.”, de Raul Zambelli, possuía, o esplêndido cinema, duas salas de projeção e, próximo à entrada, no saguão de espera, um piano, tipo armário, no qual um pianista procurava distrair o público que aguardava o início das sessões. Uma curiosidade: em seu assoalho de mármore preto havia pequenos espelhos incrustados que procuravam dar, quando refletiam algum raio de luz, a impressão de pedras preciosas.
Ainda em 1909, Nazareth foi contratado para tocar na sala de espera do Odeon. Naquele tempo, era costume se chegar uma hora antes do filme e ficar apreciando as atividades da sala: pequenas orquestras, músicos típicos ou, mesmo, para um bate-papo. E o nosso compositor virou a “coqueluche” do momento, ficando notório o fato de muita gente ir ao cinema só para ouvi-lo, deixando, inclusive, de assistir aos filmes.
Ernesto Nazareth foi, então, contratado para o famoso cinema Odeon, que ficava na Avenida Central, onde hoje é o edifício Guinle. Suas atividades, alí, passaram a constituir atrativo, principalmente para as pessoas mais importantes e as famílias tradicionais. Sua música originalíssima, diferente de tudo que se ouvia no teatro, nas chapas (discos), nos coretos, era aplaudida pelos freqüentadores mais antigos, amigos das fitas do cinema mudo, que sabiam entender aquela música que só existia no Brasil.
Baptista Siqueira
SIQUEIRA, (João) Baptista. Ernesto Nazareth na Música Brasileira; ensaio histórico-científico. Gráfica Editora Aurora Ltda. Rio de Janeiro, 1967;
O palco de Ernesto Nazareth foi a sala de espera do antigo cinema Odeon, que ficava na esquina da Avenida Rio Branco com Sete de Setembro. Ali, Chopin e Beethoven eram ouvidos vez por outra. Mas estava presente, também, a brejeirice, a alegria e toda a lírica saudosa diluída, às vezes, em lágrimas escondidas daquele carioca que sonhava voar mais alto, sem saber que já definia, com suas composições e seu piano, um momento histórico de glória. (...)
Alceo Bocchino
RADAMÉS & AÍDA GNATTALI - INTERPRETANDO NAZARETH & GNATTALI - CD dos irmãos Radamés e Aída Gnattali, com obras em arranjos para dois pianos. SOARMEC Discos - S 010 - Rio de Janeiro, 1998. Texto por Alceo Bocchino;
Mal se iniciavam as sessões, á 1 hora da tarde, e já se ouvia, na sala de espera, a revoada cascateante de sons, que o teclado emittia sob a dedilhação hábil do pianista.
E o povo começava a juntar nas calçadas... Nazareth organizava os programmas do dia e os executava ininterruptamente. A massa popular engrossava... Dentro, na ampla sala de espera, eram tambem numerosos os grupos que adquiriam entradas para ficar horas sem conta, repoltreados nos sofás, ouvindo Nazareth...
Do programma cinematographico ninguem se lembrava.
E, não raro, o enthusiasmo forçava o auditorio aos applausos. Appareceu, então, o tango Odeon. E Nazareth, durante esses quatro annos viveu um periodo de grande satisfação intima pelo estimulo que a popularidade lhe trazia.
Francisco Acquarone
VÓZ DO VIOLÃO (A). Ernesto Nazareth. Francisco Acquarone. Anno I - nº 2. Rio de Janeiro, março de 1931;
VÓZ DO VIOLÃO (A). Ernesto Nazareth. Francisco Acquarone. Anno I - nº 3. Rio de Janeiro, abril de 1931.