Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
OS INGRESSOS
OS INGRESSOS
A venda dos ingressos ficou sob a responsabilidade de Eulina e da Casa Beethoven. E escrita pela professôra, encontra-se a seguinte relação:
Recital dado em Porto Alegre
em 28 de janeiro de 1932.
Ingressos passados
Dr. João Carlos Machado - 70 pg
Major Walfredo Reis - 10 pg
Dr. J. Pinheiro - 10 a receber
Director do Banco do Rio Grande - 2 pg
Sub-Director do Banco do Commercio - 3 pg
Snra. Angela - 1 pg
Alfaiataria (r. Andradas) - 1 pg
Perfumaria (r. Andradas) - 1 pg
Chefe Casa Marcante - 1 pg
Snr. e Snra. Onaldo Machado - 2 pg
Dr. Adroaldo - 1 pg
Gravador - 1 pg
Total - 103
Maria Moritz - 1 pg
Liana Ferreira - 1 pg
Dr. Itiberê de Moura - 2 pg
Casa Beethoven - 11 pg
Total - 118
Importancia recebida 648 r
Despesas 104 r
Liquido 544 r
COLEÇÃO LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA. Rio de Janeiro;
NOTAS DE ARTES
O RECITAL DE ERNESTO NAZARETH,
HONTEM, NA SALA BEETHOVEN
Com a expectativa sympathica que se formara em torno do laureado nome do artista, realisou-se hontem, na Sala Beethoven, o recital do compositor Ernesto Nazareth. Não nos enganamos, em nossa noticia de hontem, quando dissemos que, compositor ou executante, Nazareth se completa, revelando o seu apurado senso esthetico nesse jogo admiravel. Apezar do calor excessivo da noite, a prestigiada nave da Sala Beethoven assignalou uma das suas boas casas, abrigando uma excellente assistencia, na sua grande maioria composta de elementos femininos da alta sociedade porto-alegrense. Recebido por entre acclamações de palmas, Nazareth iniciou o seu programma com um “Extase”, romance para piano, que a assistencia applaudiu, no final, demoradamente. Depois Nazareth executou o seu “Estudo”, em fá sustenido maior. Nesse trabalho, essencialmente technico, o recitalista revelou para o auditorio as duas grandes qualidades que o tornaram uma das figuras mais interessantes dos meios artisticos brasileiros. Na firmeza da execução e na superioridade da composição ficou emoldurado o talento crystallino de Ernesto Nazareth. Veio, em seguida, “Poloneza”, com que foi encerrada a primeira parte do programma. Foi um dos mais lindos trabalhos do programma, e que mais sensivelmente impressionaram os ouvintes. Tanto que, ao finalizar, as palmas reboaram com maior estrepito e com verdadeiro phrenesi. Na segunda parte, Nazareth executou as suas tres valsas “Expansiva”, “Passaros em festa” e “Elegantissima”. Todas ellas foram igualmente applaudidas, com muito enthusiasmo, com visivel satisfação. A parte mais interessante do programma, entretanto, foi a final, com os nossos tangos brasileiros. Todos elles, porém, com uma particularidade especial na sua composição, que os distancia um pouco da generalidade dos nossos maxixes, parecendo, assim, que o autor lhes cobrira com vestes de gala. “Brejeiro”, por exemplo, tem uma introducção perfeita de fado portuguez. Nazareth entra assim numa pesquiza honesta, admittindo nos seus trabalhos um pouco da essencia da nossa musica ancestral. “Escovado”, “Favorito”, “Nenê”, “Turuna” e “Gaucho”, são todas bellissimas composições, a que o recitalista emprestou a superioridade da sua execução. Foi, assim, uma das grandes veladas a que a Sala Beethoven registrou hontem. Attestam-no os enthusiasticos e prolongados applausos recebidos por Ernesto Nazareth, que durante varios minutos, ao finalisar seu recital, foi acclamado pelo auditorio, recebendo, ainda, innumeros cumprimentos especiaes. O grande nome que Ernesto Nazareth trouxe da capital da Republica foi, hontem, expressivamente coroado pelas profundas raizes que elle abriu na sympathia e na admiração da platéa artistica de Porto Alegre.
CORREIO DO POVO. Porto Alegre, 29 de janeiro de 1932;
NOTAS DE ARTE
O RECITAL DE ERNESTO NAZARETH
Alcançou o exito esperado, o brilhante recital que o conhecido compositor brasileiro Ernesto Nazareth realisou, hontem, na Sala Beethoven. O escolhido programma que o eximio artista do teclado executou, teve desempenho cabal e completo, arrancando fortes e prolongados applausos da selecta e vasta assistencia que teve o prazer de ouvir e admirar Ernesto Nazareth. Primeiramente, tivemos “Extase”, romance para piano, em que Nazareth confirmou as suas aprimoradas qualidades de artista consumado. Seguiram-se um “Estudo” em fá sustenido maior, trabalho technico por excellencia, “Poloneza”, “Expansiva”, “Passaros em festa” e “Elegantissima”, trez valsas admiraveis. Encerrando o programma, apresentou Nazareth ao auditorio varios e lindos tangos brasileiros, que foram calorosamente applaudidos. Desta forma brilhante, fez sua apresentação á platéa porto alegrense o consagrado compositor patricio, que tantos louros tem conquistado em sua admiravel carreira artistica.
ESTADO DO RIO GRANDE (O). Porto Alegre, 29 de janeiro de 1932;