Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
A VENDA DE MÚSICAS
A VENDA DE MÚSICAS
Naqueles tempos, o sistema de comercialização de músicas, pelo menos no Brasil, não era coisa muito complicada. Ou seja: se alguém se interessava em publicar obra da própria autoria, ou pagava por isso ou, simplesmente, passava-a nos cobres, perdendo, nesse caso, os direitos sobre ela. E se a composição, após negociada, se transformasse em sucesso, os editores “enchiam a burra”; cabendo ao autor, unicamente, resignar-se com a popularidade então alcançada por seu nome.
- Vendo minhas músicas devido às dificuldades financeiras nas quais me encontro; todavia, o preço que os editores pagam por elas, eu recebo como se fossem bofetadas!...
Ernesto Nazareth
CARVALHO, Nair. Entrevista concedida ao autor. RJ, 16 de julho de 1984;
As condições editoriais da música no tempo de Nazareth pouco divergiam das presentes. Da biografia de Albéniz consta que ía às casas editoras e pediam-lhe uma meia dúzia de novidades populares. O autor de Ibéria punha-se ao piano e improvisava seis, oito, dez peças, que deixava vendidas. A Ernesto Nazareth não se encomendava música. Ele levava as suas peças novas aos editores: Vieira Machado, Bevilacqua, Casa Arthur Napoleão, outras ainda, do tempo, e apresentava-as. Compravam-nas sempre (tal e tão vasto o sucesso que tinham, naquela época) os pianistas amadores, que os havia, então, perfeitamente destros, e os pianeiros capazes; porque a sua escrita não era nada fácil e exigia boa técnica e musicalidade sensivelmente mais complexa do que a popular comum.
Andrade Muricy
JORNAL DO COMMERCIO. Pelo mundo da música; vinte anos da morte de Ernesto Nazareth. (José Cândido de) Andrade Muricy. Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1954;
E apesar de suas músicas serem vendidas sofregamente, de figurar como um dos grandes compositores e dos mais acatados professores de piano da época, Nazareth vivia modestamente, sem vexames nem escândalos.
Mariza Lira
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Brasil sonoro; o tango brasileiro. Mariza (Maria Luiza) Lira (de Araújo). Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1957;
Sérgio Cabral (1937), em livro, nos apresenta uma entrevista com o compositor paraense, Waldemar Henrique (1905/1995), na qual o velho mestre da canção folclórica (a quem tive o privilégio de conhecer pessoalmente) fala de sua experiência junto a um editor:
Com o passar dos anos, verifiquei que as minhas músicas iam desaparecendo nas editoras. Quando precisava, para algum intérprete, tinha que comprar nas lojas, porque meus editores não cuidavam de reeditá-las. Vi, então, que não valia a pena editar nada, ainda mais que eles se tornavam meus sócios em todos os negócios que eu fazia. O próprio Villa-Lobos, o Mignone, o Radamés Gnattali, o José Siqueira falavam comigo: “ - Não edita, não, Waldemar!...” Os editores não pareciam nossos amigos, mas nossos inimigos. Um deles me pediu, de uma vez, 20 músicas, e eu dei. Assim que assinei o contrato, um empregado da editora me disse: “ - Você caiu numa tolice, não deveria ter assinado esse contrato!...” Fiquei triste, mas pensei: Não vou morrer já. E continuei trabalhando, produzindo outras músicas, e me esqueci daquelas que deixei com as editoras, pelas quais não recebi nada, até agora.
Waldemar Henrique
CABRAL, Sérgio. Abc de Sérgio Cabral; um desfile dos craques da MPB. Editora Codecri Ltda. Rio de Janeiro, 1979;
Entretanto, não posso deixar de citar os nomes de alguns editores que sempre calcaram suas atividades no respeito ao artista nacional: Antonio Di Franco (SP), Arthur Napoleão (RJ), Eduardo Souto (RJ), J. Carvalho (SP), João Campassi & Pedro Camin (SP), Luiz Lévy (SP), Vicente Vitale (SP) e Viúva Guerreiro (RJ).