Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
ALOYSIO DE ALENCAR PINTO (1921)
ALOYSIO DE ALENCAR PINTO (1921)
O pianista e compositor Aloysio de Alencar Pinto, nascido em Fortaleza, Ceará, aos 3 de fevereiro de 1911 (e não de 1912, conforme algumas publicações), a partir dos nove anos, já no Rio de Janeiro, prosseguia seus estudos de piano com o professor e pianista maranhense João Rodrigues Nunes, ex-discípulo de Alfredo Bevilacqua; que ministrava suas aulas no segundo dos três andares da famosa e tradicional casa de música e editora Carlos Wehrs, situada à Rua da Carioca, nº 47 (bem ao lado do Cinema Íris, nº 49).
Sempre que eu chegava mais cedo, ficava sentado na escada que ligava o primeiro ao segundo andar, esperando a aula do outro aluno acabar. E dessa escada eu via, no salão do térreo, de uma posição privilegiada, exatamente à minha frente, o Nazareth tocando. Tocava, também, de vez em quando, o José Francisco de Freitas, o “Freitinhas”, autor de algumas músicas de sucesso como aquela do “- Dorinha, meu amor, por que me fazes chorar?...” Não foi uma ou duas vezes que eu ouvi o Nazareth. Foram alguns anos, pois retornei ao Ceará somente em 1925. Ele aparecia lá, quase sempre, depois das 15 e trinta, 16 horas. Ele também tocava na Casa Oliveira, que ficava bem em frente, no número 48. Mas lá eu não ía... Não gostava de ter que atravessar a rua!... Realmente, ninguém tocava como ele. As vezes eu descia para ouvi-lo mais de perto. Que eu me lembre, nunca falei com ele... Mas, se falei, certamente foi conversa de garoto de dez anos... Nada importante... Importante foi que eu passei a compreender sua música, que ficou gravada até hoje dentro da minha alma. Hoje, instintivamente, sei quando alguém interpreta bem ou não a sua música. Uma outra coisa eu me recordo bem, pois aquilo me deixou muito impressionado: certa vez, pude observar que ele usava um terno de casimira inglesa, esverdeado, que combinava exatamente com a cor dos olhos dele. Ninguém usava um terno daquela cor!... Era, mesmo para a minha concepção de garoto, uma coisa muito excêntrica para a época...
Aloysio de Alencar Pinto
ALENCAR PINTO, Aloysio de. Entrevista concedida ao autor. RJ,