Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
TEU ROSTO - LETRA
TEU ROSTO - LETRA
E aproveitando-se da popularidade alcançada com o “tango” Bicyclette-Club, Catullo da Paixão Cearense acrescentou-lhe, mais tarde, letra e um segundo título: Teu rosto. Porém, ao publicar seus versos em livro, estes saíram com a seguinte observação em nota de rodapé: “polka Jockey Club, de Nazareth”. Acredito que tal engano (pois não é “polka” e nem se chama “Jockey Club”) tenha contribuído para manter, por mais de um século, esse primor da arte “catulense” longe do interesse de algum intérprete. Vamos à letra:
I Parte
Tu não sabes quais são minhas preces, quando me apareces meigamente santa!
Canta a lágrima do meu desgosto quando ao ver teu rosto - sacrossanta cruz.
Ele encanta, me seduz, fascina! Osculá-lo almejo! Sensação divina!
Vem! Consente que eu, virgineamente, guarde um simples beijo nesse altar de luz.
Teus olhinhos são dois passarinhos dolorosamente beliscando a gente!
Beija-flores que nas minhas dores vêm beber o sangue desse meu sofrer.
Neste pobre coração magoado, todo beliscado nos azuis refolhos,
vêm teus olhos a sorrir, tristonhos, nos meus tristes sonhos, nos meus ais bulir.
II Parte
Basta qu’eu ouça o teu falar, para uma estrela em mim... brilhar!...
Eu ouço o mar e a voz dos céus, a voz queixosa de uma rosa, orando a Deus!
Minh’alma, louca, por te amar, enche-me a boca a te escutar!
E quando um beijo vou roubar, foge a tua boca, para não m’o dar.
Não sei porque a minha dor, sente se falas tal condão,
que se transmuda numa flor e logo, em flores, a comprimir meu coração!!
Vendo-te bela e meiga, assim, fico com pena até de mim!
E quando um beijo vou roubar, foge o teu rosto... para não m’o dar...
I Parte
Si o teu rosto que de mim se furta, quando leva um beijo, cheira mais que a murta!
Quem o beija de manhã, primeiro, sente logo o cheiro matinal da flor!
Teus cabelos, com que a fronte enlutas, cheiram mais que as frutas dos vergeis rorantes!...
E essas gotas de suor, brilhantes, cheiram mais ainda que os cristais da flor.
III Parte (Trio)
Vens ao longe? O teu rosto flutua. Eu vejo nele a lua que, num casto véu,
toda envolta num saudoso fluido, à noite, num descuido, nos caiu do céu.
I Parte (Finalizar)
Dos sorrisos que, chorando, afago, vêm desabrochando no teu rosto mago,
vejo os frisos que o favônio brando faz, assim, brincando de um lago à flor.
Mudas liras, solitárias liras... com teu rosto inspiras - divinal Castália!
Ai, que gosto ver assim teu rosto, como a simples dália de amarela cor.
CEARENSE, Catullo da Paixão. Trovas e Canções. Quaresma & Cia. Editores. Rio de Janeiro, 1910;