Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
O SERTANEJO ENAMORADO - LETRA
O SERTANEJO ENAMORADO - LETRA
I Parte
Ai, ladrãozinho, dos teus lábios de coral, (tem dó)
dá-me um beijinho, não te podes fazer mal. (um só)
Tu és tirana, eu bem sei!... Meu amor.
Meu coração, ó serrana, eu te dei.
Valha-me Deus! É penoso viver, ai... A gemer.
Na minha choça, teu escravo sou até!
Tenho uma roça e esta casa de sapé.
Foi para dar-te que a fiz... E aqui vivo,
por amar-te, feliz, ai meu Deus!
Nela, contigo, eu serei mais que um rei... Ai... mais que um rei.
I Estribilho
Eu canto em minha viola ternuras de amor, mas de muito amar!
O choro, as mágoas consola! Teu fero rigor quer minha vida acabar, acabar...
Eu canto a dor no meu pinho, com tanto carinho, tu podes crer,
que eu vou para a morte cantando, que a vida penando por ti dá prazer.
I Parte
Teu riso cheira, como um galho de alecrim.
És feiticeira! Queres dar cabo de mim!
Ouve o suspiro de amor, estes ais,
que d’alma tiro de dor! (Ora, ladrão!)
Não me maltrates assim... Ai de mim!... Ai... ai de mim!...
Eu sinto o cheiro, o cheirosíssimo odor,
de um cajueiro carregadinho de flor.
Quando tu passas, assim, de manhã,
por estes matos, sem fim, sem olhar
uma só vez para mim... Ai de mim!... Ai... ai de mim!...
II Estribilho
Eu canto a dor na viola e a dor me consola... Tu podes crer.
Morrendo por ti, sofrendo, vou morto, vivendo, vivendo a morrer, a morrer...
Eu sou jaçanã ferida, gemendo de dor, lá na solidão.
Minh’alma, toda sentida, soluça de amor, nesta pobre canção.
I Parte (Final)
És flor do ipê, dos sertões do meu Brasil.
És a irerê, da lagoa cor de anil!
Se vais ao monte roçar ou se vais
água na fonte buscar... Valha-me Deus!
Segue-te o meu coração, rente ao chão!... Ai... rente ao chão!
Como eu sou rico, se me cresce o milharal... (sou rei)
Ai! Como eu fico, se floresce o cafezal... (nem sei)
Mas, fico mudo, sem ti! Chora tudo,
tudo, tudo d’aqui. Ai minha flor!...
Não me apoquentes assim... Ai de mim!... Ai... ai de mim!...
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Ernesto Nazareth, o creador do tango brasileiro. Catullo da Paixão Cearense. São Paulo, 27 de abril de 1926;