Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
EM CASA DE JORGE FRAGOSO (1926)
EM CASA DE JORGE FRAGOSO (1926)
Primeiramente, o músico hospedou-se em casa do médico Jorge Fragoso, à Rua Cubatão, nº 89, bairro do Paraíso, tratando-se da mesma pessoa a quem o compositor dedicara, em 1913, o “tango” Atrevido.
Eu não conheci o Nazareth, pois nasci no ano em que ele morreu. Mas os meus dois irmãos mais velhos, Carlos e Augusto, já falecidos, é que tiveram contato com ele. Augusto, que estudava piano, me dizia que achava a coisa mais incrível o fato de sendo o compositor muito surdo, e estando hospedado em um quarto no segundo andar da casa, quando esse meu irmão estava na sala tocando qualquer coisa e errava uma nota, Nazareth descia do seu aposento, ia até ele e lhe chamava a atenção sobre a nota errada!!!
Jorge Fragoso
FRAGOSO, Jorge. Entrevista concedida ao autor, por telefone. RJ/SP, 12 de abril de 1996;
Em 12 de abril de 1996, ou seja, setenta anos e dois dias depois da chegada de Nazareth à São Paulo, recebi um fax da parte do Sr. Jorge Fragoso, filho do Doutor Fragoso, relatando-me o seguinte:
Sr. Luiz Antonio de Almeida:
O jornal “O Estado de S.Paulo”, de 10 do corrente, traz em seu caderno 2, matéria do jornalista Mauro Dias a respeito de seu precioso trabalho sobre Ernesto Nazareth. Quero congratular-me contigo pela propriedade da biografia de um dos maiores compositores brasileiros, se não o maior. Sem mesmo estar publicada, já estou extremamente ansioso por conhecê-la, já que o biografado tem sido, do longo dos tempos, verdadeiro ídolo em casa, desde minha infância, todos apreciadores de música.
Meu pai, Jorge Fragoso, músico amador como eu, nascido no ano de 1888, ainda estudante de medicina, no Rio, conheceu Nazareth tocando no cinema Odeon, quando brotou uma sincera e respeitosa amizade entre ambos. Essa amizade seguiu pelo restante de seus dias, durante os quais vários fatos pitorescos se sucederam. Um deles culminou a matéria do “Estadão”, e a casa em que Nazareth se hospedou deve ter sido a de Jacintho Silva, como menciona o jornal; em nossa casa igualmente se hospedou Nazareth, também no bairro do Paraíso, Rua Cubatão, vizinha à de “seu” Jacintho, na Rua Sampaio Viana, se não me falha a memória.
Infelizmente, o velho Ernesto morreu no ano em que nasci e as histórias de que me lembro muito bem foram contadas por meus pais e irmãos, todos já desaparecidos, que conviveram afetivamente com o mestre, de quem tenho duas músicas autografadas para Jorge Fragoso, pai, além de grande parte das primeiras edições de seus tangos, polkas, choros, etc.
Finalizando este breve relato, quero dizer da alegria por ver reparada, através de seu inestimável trabalho, parte da injustiça representada pelo esquecimento a que Nazareth tem sido relegado.
Os pontos comuns que encontro em nossa admiração pelo sensível compositor, permitem-me, também de maneira “atrevida”, externar a intenção de, em ocasião que se faça possível, encontrá-lo pessoalmente para relatar histórias que aprendi a ouvir de pessoas realmente ligadas a Ernesto Nazareth, e aprender contigo muito daquilo que não sei a respeito dele.
Cordiais saudações
Jorge Fragoso
P.S. É bem possível que da lista de doadores paulistas do piano Sanzin, venhamos a achar o nome de alguém de nossa família.
FRAGOSO, Jorge. Fax enviado ao autor. São Paulo, 12 de abril de 1996;