Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
NICOLAS ALAGEMOVITZ
NICOLAS ALAGEMOVITZ
Natural da Romênia, Nicolas Alagemovitz passou a residir no Rio de Janeiro a partir de 1923. E já no final daquela década, alcançara grande prestígio como retratista, registrando em seu ateliê, na Cinelândia, não só a elite carioca e personalidades das colunas sociais, mas artistas nacionais, estrangeiros e membros da Academia Brasileira de Letras. E entre os renomados que se deixaram fotografar por ele, podemos citar os pianistas Carlo Zecchi (1903/1984) e Arthur Rubinstein, o barítono Feodor Chaliapin (1873/1938), o jornalista Roberto Marinho (1904/2003), o pintor Bruno Lechowsky (1887/1941), o Almirante Augusto Rademaker, os compositores Francisco Mignone (1897/1986), Heitor Villa-Lobos, Marcello Tupynambá, o próprio Ernesto Nazareth, o poeta Catullo da Paixão Cearense, a cantora Carmen Miranda, etc.
As fotografias de Nicolas (pronuncia-se Nicólas) ilustravam algumas das principais revistas da Capital Federal, tais como: “Cinearte”, “Illustração Brasileira”, “Kosmos”, “Para todos...” e “Revista da Semana”. E assim como seu colega Augusto Malta, também registrou instantâneos de bailes de carnaval do Copacabana Palace, eventos no Club São Christóvão, batizados, casamentos e pontos turísticos.
Em 12 de junho de 1931, nas instalações do “Studio Nicolas”, foi oficialmente fundando o célebre “Núcleo Bernardelli”, cujo objetivo principal seria o aprimoramento técnico e profissionalização de seus artistas, dentre os quais: Ado Malagoli, Bráulio Poiava, Bustamante Sá, Edson Motta, Eugênio Sigaud, Expedito Camargo Freire, João José Rescala, Joaquim Tenreiro, José Gomez Correia, José Pancetti, Manoel Santiago, Milton Dacosta, Quirino Campofiorito, Yoshia Takaoka e Yuji Tamaki. E quanto ao nome adotado, tratou-se de uma homenagem aos antigos mestres Henrique e Rodolfo Bernardelli que, não aceitando o conservadorismo da Escola Nacional de Bellas Artes, montaram, no final do século XIX, um curso paralelo à Rua do Ouvidor. Entretanto, em novembro desse mesmo 1931, o núcleo transferiu-se para os porões da ENBA, tendo Edson Motta, destacado parlamentar, como seu primeiro presidente.
Nos documentos pessoais, anúncios e logotipo do estabelecimento, Nicolas sempre se referiu a si como “artista-fotógrafo”, utilizando-se, inclusive, da elegante expressão “Photographie d’Art”. Em seu estúdio ocorreram muitas exposições e conferências sobre arte, como a proferida pelo grande artista mexicano Siqueiros, em 1933. Mas, infelizmente, aos 27 de setembro de 1940, Alagemovitz, próximo dos cinqüenta anos, veio a falecer na Capital da República, deixando viúva Odila Sarmento Alagemovitz (1911/2002), artista plástica que assinava seus trabalhos como “Movits”, e um casal de filhos, ainda vivos, Sônia e Sérgio, nascido, este último, em 22 de junho de 1934.
Não podemos deixar de dizer que meu pai também era pianista e compositor, tendo até uma música gravada em disco da Brunswick chamada “Momentos tristes do Rio de Janeiro”.
Sérgio Alagemovitz
ALAGEMOVITZ, Sérgio. Depoimento concedido ao autor. Rio de Janeiro, 11 de abril de 2006;
Quanto ao “Studio”, parece que teria passado às mãos de uma sobrinha do falecido artista e, mais tarde, aos cuidados de um funcionário que, com muito sacrifício, conseguiu manter suas portas abertas até meados da década de 1980. E pelo menos até 1982, quando lá estivemos pela última vez, ainda encontramos muita gente famosa “pendurada” nas paredes do velho estúdio, cabendo o destaque maior ao soprano Bidú Sayão (1904/1999), em um pôster colorido à mão, no qual aparecia caracterizado de Rosina, de O barbeiro de Sevilha, ópera de Rossini, seu primeiro grande sucesso. Era deslumbrante.
E das quatro elegantes salas, com direito a magnífica vista do Theatro Municipal, mais o apartamento que, juntos, ocupavam o andar inteiro, só restava uma, a menor de todas. Contudo, entre aquelas quatro paredes surradas, ainda reinava, soberana, a velha câmera fotográfica de Nicolas, uma preciosidade hoje desaparecida.