Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
COMO ESTAVA O CORPO DE NAZARETH (1934)
COMO ESTAVA O CORPO DE NAZARETH (1934)
É sabido que os corpos da maioria das vítimas de afogamento, dependendo ainda da temperatura da água, retornam à superfície após dois ou três dias, inflados pelos gases criados a partir de seus intestinos.
Quatro dias depois, o velho apareceu. Estava todo inchado, todo estropiado da água. Os peixes já tinham beliscado ele. Todos nós vimos o corpo dele. Eu não tinha que ter saído, eu morava lá. O Necar fugiu porque estava encarregado. Ele saiu, foi embora pra Cabo Frio, ele era de lá.
Bento d’Ávila
ÁVILA, Bento Manuel Moreira de. Entrevista concedida ao autor. RJ, 1979.
O mais impressionante, na descoberta do corpo de Nazareth, foi a posição em que ele foi encontrado. Foi a Dona Mercêdes, depois confirmado a mim pela própria Dona Eulina, quem me disse que encontraram o corpo dele na posição vertical, como se estivesse de pé, dentro d’água, com as mãos para frente, como se estivesse tocando piano!...
Maria Alice Saraiva
SARAIVA, Maria Alice da Silva Pinto. Entrevista concedida ao autor. RJ, 8 de setembro de 1985;
Morto, junto a uma cascata, guardava (o corpo do compositor) a atitude de quem está executando ao piano: rosto sereno, a cabeça ligeiramente inclinada para trás, defrontando a queda das águas; a mão esquerda levantada à altura do ombro e a direita como repousando sobre o teclado - a superfície oscilante da água em que se achava, a meio, imerso.
Boletim Trimestral do SEMA
BOLETIM TRIMESTRAL DO SEMA - Nº 44 - Serviço de Educação Musical. Rio de Janeiro, jan/fev/mar. de 1963;
Já era noite quando retiraram o cadáver de Ernesto Nazareth das águas da represa; chegando às dependências da Colônia sobre uma padiola iluminada por tochas.
“Ernestinho”, Eulina e Maria Mercêdes, que aguardavam na administração, ficaram chocados ao presenciarem momento tão dantesco, principalmente quando o corpo, com os braços rigidamente projetados para cima, passava a todos a impressão de que o compositor ainda estivesse vivo debaixo do lençol.
Eulina ficou, durante muito tempo, profundamente desolada... Só restava a saudade, a grande saudade, não só em Eulina, mas também em todos os que haviam conhecido o maravilhoso compositor Ernesto Nazareth.
Álvaro de Sousa Gomes
GOMES, Álvaro de Sousa. Depoimento por escrito feito especialmente para o autor. RJ, 14 de janeiro de 1985;