Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
À CASA ARTHUR NAPOLEÃO (1933)
À CASA ARTHUR NAPOLEÃO (1933)
O Ênio (interno) era um paranóico tremendo. Era rompante. Parecia, até, o dono do mundo. E, de vez em quando, eu tinha que dar um “chega-pra-lá” nele... E ele falava com o pai, e o pai dizia pra mim: “ - É, ele me disse que o senhor deu um encontrão nele...” Eu (Bento) já lhe avisei quando comecei a tomar conta dele que, de vez em quando, nós íamos nos “encontrar” no corredor... Que, se não, não dá... O sujeito não respeitando não se pode tratar. E o velhinho (Ernesto) também era a mesma coisa, quando saía com ele.
Às 13 horas, acabava meu expediente e saía um ônibus da Colônia, que levava os médicos para a cidade. Deixava todos eles no Largo da Carioca. Uns ficavam pelo caminho, ficavam onde lhes convia. Mas, a maioria, que vinha para o centro, ficava no Largo da Carioca. E, as vezes, eu ía com ele no ônibus, quase que dia sim, dia não. E descia, com ele, lá na praia do antigo Senado, onde era o (Palácio) Monroe. Descíamos alí, e os caras que vinham com a gente íam para a faculdade de medicina. Eram o Allan Kardec e o Moysés Mattar, que estudava direito (ambos falecidos). Mas, nós ficávamos lá no Monroe e dalí nós íamos, a pé, até a Casa (Arthur) Napoleão. E quando Nazareth chegava na Casa (Arthur) Napoleão, era uma festa. A turma toda abraçava ele. Todomundo gostava dele. E ele sentava ao piano e “batia” aquelas músicas... Afamadas músicas...
Ele se comportava muito bem, tocava direitinho. Depois que ele acabava de tocar, a turma dizia: “toca essa, toca aquela...” E ele tocava. Quando parava, então, dizia:
“ - Estão vendo, viram só?... Eu estou maluco, mas ainda toco melhor que vocês!...”
E eles mandavam servir café para nós. Depois a gente saía...
Mas, o negócio dele era andar, não queria parar. De vez em quando, eu tinha que dar umas beliscadas nele... Agarrar ele, dar uns beliscões, aqui no braço, no bíceps, no deltóide, para o “bicho” se acomodar. E, então, ele dizia para mim:
“ - Não precisa me beliscar, eu vou me comportar, não precisa me beliscar!...”
E, assim, eu ía levando a vida com o Nazareth...
Bento d’Ávila
ÁVILA, Bento Manuel Moreira de. Entrevista concedida ao autor. RJ, 1979;