Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
“ERNESTINHO” & ESTHER (1926)
“ERNESTINHO” & ESTHER (1926)
No dia seguinte ao recital do “rei do tango” no Conseratório Dramático e Musical de São Paulo, 3 de junho, à Igreja do Sagrado Coração, no Rio de Janeiro, Capital Federal, Ernesto Nazareth Filho veio a se casar com Esther Ramos de Farias, moça natural do Recife (PE), “formada” em corte-e-costura e a quem conheceu trabalhando em um armarinho no centro da cidade. Filha de Samuel Ramos de Farias, juiz, e de Dona Maria José Barros de Araújo, passou, ela, a assinar Esther de Farias Nazareth.
“Ernestinho” era rapaz bonito, culto, bem empregado, freqüentador, por intermédio das relações de seus pais, das melhores famílias da cidade. Ninguém entendeu o que foi que ele viu na tão sem graça Esther. E Ernesto, seu pai, certamente desaprovava a união, pois não se pode compreender de outra forma o fato de não se ter esperado pela volta dele de São Paulo para participar da cerimônia.
Curiosamente, mesmo tendo convivido por mais de dez anos com a nora, o maestro jamais lhe dedicara uma única música.
Depois do falecimento de “Ernestinho”, em 1962, e com quem não tivera filhos, Esther, na condição de única e legítima herdeira do marido, passou a administrar a parte deste nos Direitos Autorais do sogro; procurando, inclusive, com algumas editoras, negociar a publicação de peças inéditas deixadas pelo artista. E isso seria até louvável se não fosse o fato de não se ter levado o assunto ao conhecimento de Eulina e Diniz. E mesmo que tais obras jamais tenham sido impressas, Esther chegou a receber, como adiantamento, alguns valores que lhe permitiram reformar a casa deixada pelo companheiro, à Rua Chaves Pinheiro, nº 30, no Humaitá, viajar para Paris e, ainda, realizar uma cirurgia plástica facial.
Ela se justificava:
“ - Quem cuidou do velho, no final da vida dele, fui eu!...”
SARAIVA, Maria Alice da Silva Pinto. Entrevista concedida ao autor. RJ, 8 de setembro de 1985;
Relações cortadas com Eulina, as duas senhoras praticamente não se falaram mais. Contudo, em certa ocasião, à casa de Maria Alice Saraiva, grande intérprete e divulgadora da obra de Nazareth no Brasil e no exterior, Eulina e Esther compareceram. Educadas, ainda chegaram a se cumprimentar, mas, depois, cada qual tratou de se acomodar em lados opostos da sala. No final da noite, um constrangimento: alguém resolveu tirar fotografias da anfitriã com seus convidados. As fotos foram feitas, porém, em duas sessões: uma do grupo reunido com Eulina e outra, do mesmo grupo, só com Esther. Elas não se deixaram fotografar juntas!
Em outra ocasião, Maria Alice também não foi muito feliz ao reunir debaixo do mesmo teto, Lucília Villa-Lobos e Arminda Neves de Almeida. Lucília foi a primeira esposa do maestro Heitor Villa-Lobos e Arminda, a nossa inesquecível “Mindinha”, a segunda.