Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
CORBEILLE DE FLEURS (1899)
CORBEILLE DE FLEURS (1899)
Por E. Bevilacqua & Cia., veio a público, nesse ano, a primeira edição da única gavota de Ernesto Nazareth, Corbeille de fleurs (Ch. nº 4.447), dedicada à Candinha Leite Velho.
Foi a segunda incursão do compositor no campo da música eminentemente erudita; atingindo, com ela, resultado mais interessante do que o obtido com Adieu, romance sem palavras, impresso no ano anterior.
É interessantíssimo. É uma gavota, do começo do século, e é uma música que não tem nenhuma característica de choro, de tango ou qualquer coisa. É uma música descritiva, simplíssima, com um a-b-a muito, digamos, pobre, entre aspas. Rico em conteúdo, mas pobre... É um a-b-a e uma codazinha, etc, etc. Mas, tratado, como ele mesmo indica, ele quer um “suavissimo molto espressivo”. Quer dizer... Bonita a idéia dele também. Não é só o homem do batuque, do tango, do choro, mas alguma coisa que ele quer “suavissimo” e que paire no ar... E ele consegue. Você sente a impressão que essas “flores” estão flutuando por aí...
Eu tive, também, essa grande revelação, bem tarde, na minha vida... E esse encontro com Ernesto Nazareth, que tem alguém por trás que é culpado... Esse senhor Luiz Antonio de Almeida, que é o herdeiro de Nazareth, que é o biógrafo, bibliógrafo... E ele está me ajudando muitíssimo nessa questão. Enfim, eu não pensava que Nazareth fosse tão maravilhoso como era!... Porque eu conhecia como todo mundo conhece, aquele pouquinho. Ouviu, leu uma ou duas obras... Mas eu sentei ao piano para estudar e é realmente uma revelação. E eu pretendo, com tempo e com calma, escrever alguma coisa sobre essas impressões, que vale a pena!...
Heitor Alimonda
ALIMONDA, Heitor. Entrevista concedida ao produtor Lauro Gomes. Programa “Música e Músicos do Brasil”, Rádio MEC, Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2001;
Curiosamente, nosso artista demonstrava especial predileção por esta peça, interpretando-a sempre nos programas de seus recitais. E Cândida, casada com o conceituado advogado lusitano, Dr. Bernardo Teixeira de Moraes Leite Velho, certamente, deve ter sido amiga muito querida do compositor, recebendo dele, por volta de 1915, uma outra homenagem: a valsa Divina. Mas, infelizmente, nessa obra, vamos encontrar na dedicatória um “à memória de...” antes do nome da distinta senhora. O Dr. Bernardo morreria em 1915.
Prezado Sr. Luiz Antônio de Almeida,
Permite que me apresente, me chamo Roberto Jorge de Freitas Filho, neto de Da. Dulce Leite Velho de Freitas, bisneto de Da. Dalila Leite Velho Teixeira Pinto, e descendente direto do Dr. Bernardo Antônio Teixeira de Morais Leite Velho.
Recentemente, entrei em contato com o Sr. Fernando Luiz Toulson Leite Velho, ao observar uma das mensagens dele no Fórum da Genea. Das informações descritas na mensagem foram coincidentes às nossas lembranças familiares sobre o Dr. Bernardo.
Desde então, tenho contatado quase que diariamente.
Vivo aqui em Curitiba, no Estado do Paraná.
Meus pais estão agora no Rio de Janeiro, em busca dos documentos sobre a Da. Dalila, nos cartórios e no cemitério para conseguir mais informações da família Leite Velho. E também em busca das referências históricas e bibliográficas do Dr. Bernardo no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).
Daí, obtive do Sr. Fernando Leite Velho conhecimento da vossa pessoa com a troca de mensagens em busca pela Da. Candinha Leite Velho.
Desde então com a troca de mensagens com Sr. Fernando Leite Velho, tenho buscado cada vez mais referências históricas da família Leite Velho. Muitos fatos são apenas lembranças. Os antigos documentos e das muitas e muitas antigas fotos que foram perdidas após falecimentos dos meus avós.
Em 1981, tinha organizado e anotado todas as referências da família Leite Velho. Também catalogado as inúmeras fotos antigas. E muitos cartões postais de Da. Dalila (era chamada como Lilita, para os íntimos familiares). Por isso, tenho boas lembranças sobre a família Leite Velho. Muitos nomes dos remetentes dos cartões estavam todos abreviados, dificultando bastante a correta identificação dos nomes. Tanto que estamos estudando e pesquisando os nomes, comparando-os com algumas referências históricas e mesmo das nossas lembranças, mas, não é tão fácil.
Infelizmente, pouco sobrou para nós atualmente, dos antigos documentos e das fotos. Só mesmo as lembranças...
Temos conosco apenas 200 cartões postais de Da. Dalila, compreendendo no início de século XX... E documento de imigração (ou naturalização) do Dr. Bernardo.
Entretanto, sobre a Da. Candinha Leite Velho, quase não temos lembranças, a não ser de que havia alguns comentários de Da. Dulce sobre o compositor Nazareth e que acreditamos de que seria apenas uma admiração muito sincera pelas músicas do compositor.
Mas, me lembro das muitas fotos antigas com todos os familiares Leite Velho, inclusive, na chácara, próximo da Estação Ferroviária Vicente de Carvalho, nos primeiros decênios do século XX. Ou, então, na casa da Rua Itapiru, 151 (até nos meados da década de 1920), antes da mudança para essa chácara... Ou, ainda, do antigo casarão que ficava no final da atual Av. Oswaldo Cruz, perto da praia de Botafogo...
Espero que com esses pequenos detalhes possam lhe aludir as algumas lembranças sobre a Da. Candinha Leite Velho.
Paz e saúde.
Roberto Jorge de Freitas Filho.
FREITAS (Filho), Roberto Jorge de. Depoimento enviado ao autor por e-mail. RJ, 1º de maio de 2007;
Em outros dois e-mails, Roberto Jorge explicaria que o Dr. Bernardo Teixeira de Moraes Leite Velho foi advogado famoso e, também, membro bastante ativo das comissões de história do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (I.H.G.B.), falecendo aos 14 de dezembro de 1915, no Rio de Janeiro. Com Candinha tivera, pelo menos, uma filha, Dalila Leite Velho, nascida em 1877, no Rio de Janeiro, e falecida, na mesma cidade, em 24 de abril de 1940. Esta, por sua vez, casou-se, entre 1908 e 1910, com Antônio Teixeira Pinto, português, dono de uma loja inicialmente estabelecida no Largo de São Francisco, nº 24, com o nome de “A Brazileira” (1890/1910), e com quem teria, pelo menos, uma filha, Dulce Leite Velho, nascida na então Capital Federal, em 27 de março de 1911.
Finalmente, Dulce casou-se com Antônio de Freitas e teve três filhos, sendo o caçula Roberto Jorge de Freitas, nascido em 3 de fevereiro de 1934, pai de Roberto Jorge.