Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
AMOR E INTRANSIGÊNCIA
AMOR E INTRANSIGÊNCIA
A morte trágica do Dr. Nazareth, primo de Ernesto, deu ponto final a uma história de angústia e desespero, originada na intransigência mútua entre pai e filha.
Aracy Nazareth havia conhecido o comerciário paulista Pedro Montel, austríaco de nascimento, natural de Onek, província de Ljubljana, onde nasceu aos 8 de fevereiro 1880. Filho de Peter Montel e Marija Eisenzop, tratava-se de pessoa muito educada e trabalhadora. Dizia-se, até, que tinha sangue nobre. Entretanto, essas “credenciais” não foram suficientes para que Mário aprovasse o namoro entre os dois, pois faltava ao rapaz os cobres que talvez lhe valessem mais do que um caráter irrepreensível...
Proibida terminantemente de ver o amado, a moça, assim mesmo, resolveu desobedecer às ordens do pai; o que teria resultado, segundo me informou a prima Julita Nazareth Siston, em uma internação dela em casa de saúde. Já o filho de Aracy e Pedro, Arnaldo José de Nazareth Montel, saudoso empresário e grande incentivador dos desfiles de fantasias do carnaval carioca, contou-me que ela não chegou a ser internada, mas, sim, ameaçada de ser interditada.
Aracy, então, resolveu fugir para a casa de uma de suas tias, paternas, que, sensibilizada com a história, deu a ela apoio e abrigo. Mário, cujo processo para torná-lo conde papal tramitava pelo Vaticano, sentindo-se desafiado, avisou que se a filha não voltasse seria deserdada. Ela, contra-atacando, exigiu a parte que lhe cabia na herança da mãe, morta havia dezesseis anos.
Ultrajado, o Dr. Nazareth resolveu cumprir a ameaça, indo ao cartório deserdá-la. Mas, como no tal dia era folga do motorista, pegou um bonde. Porém, à altura da Rua do Russel, um carro perdeu a direção e colidiu contra o bonde. E no impacto, o engenheiro fraturou o pescoço. Foi levado inconsciente ao Posto Central de Assistência (mais tarde Hospital Souza Aguiar), onde veio a falecer. Seu corpo enterrado no Cemitério de São João Batista, no dia 3.
Conta-se, inclusive, que à hora em que desciam à sepultura os restos mortais de Mário da Silva Nazareth, eram encaminhados à última morada, em o mesmo cemitério, os de outro homem também falecido após desentendimentos com uma filha. Todavia, esta jovem, na presença de todos, fez questão de projetar sobre o caixão do defunto, seu pai, o resultado de uma sonora escarrada! E isso só não foi a pior das cenas porque, momentos antes, havia aparecido, no velório, uma mulher dizendo que as crianças que a acompanhavam seriam frutos de relacionamento seu com o falecido!...