Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
VASCO LOURENÇO VAI TRABALHAR NA ALFÂNDEGA
VASCO LOURENÇO VAI TRABALHAR NA ALFÂNDEGA
Em 1862, Vasco Lourenço começou a trabalhar como despachante na Alfândega do Rio de Janeiro, cuja parte administrativa, a qual não freqüentava, funcionava num prédio projetado pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny (1776/1850), inaugurado a 13 de maio de 1820, e que atualmente abriga um importante espaço cultural da cidade: a Casa França-Brasil.
Na Alfândega já trabalhavam seu tio, o Tenente-Coronel Sabino da Silva Nazareth (2º escriturário) e dois filhos deste: Henrique da Silva Nazareth (4º escriturário) e Zeferino Augusto Nazareth (fiel de armazém). Homem que amealhou grande fortuna, principalmente com o aluguel de embarcações de sua propriedade para o transporte de escravos, teria sido Sabino, certamente, quem lhe conseguira o emprego. E, só por curiosidade, Vasco Lourenço também encontraria, entre os colegas de ofício, dois tios do pai da futuramente célebre compositora Chiquinha Gonzaga: Francisco Carlos Neves Gonzaga (despachante, nascido em 20 de maio de 1824 e falecido aos 5 de junho de 1888) e João Bernardino Neves Gonzaga (oficial de descarga, nascido em 10 de abril de 1826).
UM DOS HOMENS MAIS VELHOS DO BRASIL
Foi funcccionario publico até completar 95 annos de edade.
No Brasil não é commum a alguém commemorar um seculo de existência. Teve hontem essa alegria o sr. Vasco Lourenço da Silva Nazareth, pae do fallecido pianista Ernesto Nazareth e avô da superintendente do Ensino da prefeitura d. Eulina de Nazareth.
O sr. Vasco Lourenço da Silva Nazareth nasceu nesta cidade, no largo da Lapa, em 15 de fevereiro de 1838. Oriundo de família modesta, obrigado a acompanhar seu pae, então constructor, a Nictheroy, ali fez estudos em collegios particulares. Aos 18 annos voltou ao Rio, sendo pouco depois nomeado auxiliar de despachante da Alfândega.
Nessa carreira foi promovido a despachante em 1863. Mais tarde, foi nomeado despachante geral. Assignou o acto o conselheiro Zacharias de Goes e Vasconcellos, que era o Ministro da Fazenda. Só em 1920 foi outra vez nomeado despachante aduaneiro, cargo que exerceu até fazer 95 annos de edade. O physico alquebrado não lhe permittia continuar na actividade.
Apezar de ser preposto do serviço publico, exercendo o cargo official e ininterruptamente durante 77 annos, por falta de uma legislação adequada chegou ao centenario, invalido, sem o amparo da aposentadoria.
O sr. Vasco Lourenço casou-se duas vezes. A primeira em 1860, com d. Carolina Augusta Pereira da Cunha. A segunda em 1896, com d. Joanna Leonidia de Meirelles Leal. Do primeiro leito houve cinco filhos, entre os quaes o pianista Nazareth, que teve, no começo da Republica, muita popularidade, pois foi um festejado creador de musica regional. Do segundo matrimonio nasceram-lhe dois filhos, já fallecidos.
Tem oito netos, todos vivos: d. Eulina de Nazareth, d. Diva Nazareth, Ernesto Nazareth Filho, Maria Nazareth, Zillah Nazareth e Julia Nazareth.
Foi uma cerimonia carinhosa e tocante a que hontem se realizou em honra do anniversariante centenário. Sua família e seus amigos e antigos companheiros da Alfandega mandaram celebrar missa em acção de graças. A todos o sr. Vasco Nazareth pedia que o não sensibilizassem muito, visto como a velhice muito avançada, dizia elle, não resiste ás fortes emoções.
CORREIO DA MANHÃ. Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 1938;