Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
CATULLO EM RECITAL DE VIOLÃO (1908)
CATULLO EM RECITAL DE VIOLÃO (1908)
Ao participar de um “concerto de violão e piano”, Ernesto Nazareth protagonizou, mesmo sem a menor repercussão, um dos episódios mais significativos da história da música brasileira. E, coincidentemente, nessa época, Catullo da Paixão Cearense também vivenciou um momento de igual importância, deixando escritas, em 1º de fevereiro de 1945, as suas impressões.
(...) Como já não podia atender a muitos convites, resolvi em 1908 dar uma audição no antigo Instituto Nacional de Música, à rua Luís de Camões. Isso foi no dia 5 de julho daquele ano. Parecia impossível obter o salão do Instituto, por não ser o violão um instrumento oficial. Pois bem. O maestro Alberto Nepomuceno, seu diretor, levou muito tempo a vacilar com medo da crítica burguesa, que eu nunca temi. Mas acabou cedendo. O Instituto ficou cheio das personagens mais ilustres da Capital. Músicos, literatos, médicos, jornalistas, advogados, engenheiros, professores, pintores, o escol da nossa sociedade, diplomatas, como o Conde de Prozoor, então ministro plenipotenciário da Rússia, tudo se encontrava ali no meio da massa popular! Inúmeras pessoas ficaram de pé, por não haver mais lugar. Os aplausos eram tão retumbantes, que se ouviam da rua. O crítico musical Oscar Guanabarino, que havia escrito um artigo atacando o maestro Nepomuceno, por haver permitido que eu introduzisse o violão naquele templo, onde só pisavam celebridades, depois do meu triunfo confessou a sua falta, saudando-me com palmas delirantes. O maestro Nepomuceno não compareceu à audição, temendo a crítica geral. De vez em quando, perguntava, pelo telefone, como a coisa ia seguindo. Quando afinal soube da minha vitória, fremiu de satisfação. No dia seguinte os jornais teceram-me elogios, com exceção de um, em que Osório Duque Estrada atacou-me violentamente, porque há três dias ele tinha feito uma conferência naquele Instituto, com vinte assistentes apenas! (...)
Catullo da Paixão Cearense
CEARENSE, Catullo da Paixão. Modinhas. Livraria Império. Rio de Janeiro, 1956;
Acredito que a conferência de Osório Duque Estrada a qual se refere Catullo, pode ter sido aquela mesma que Ernesto Nazareth participou.