Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
ARTIGO DE DARIUS MILHAUD (1924)
ARTIGO DE DARIUS MILHAUD (1924)
Nesse ano, pela revista paulista Ariel, saiu um artigo de Darius Milhaud que teve grande repercussão junto ao meio musical. Chamado de “genial”, pelo compositor francês, a reação de Nazareth, contudo, foi de completa indiferença.
(...) É de lamentar que os trabalhos dos compositores brazileiros, desde as obras simphonicas ou de musica de camara, dos srs. Nepomuceno e Oswald, ás Sonatas impressionistas do sr. Guerra ou ás obras de orchestra do sr. Villa-Lobos (um jovem de temperamento robusto, cheio de ousadias), sejam um reflexo das diferentes fases que se succederam na Europa, de Brahms a Debussy, e que o elemento nacional não seja expresso de uma maneira mais viva e original. A influencia do folk-lore brazileiro, tão rico de rythmos e de uma linha melodica tão particular, se faz raramente sentir nas obras dos compositores cariocas. Quando um tema popular ou o rythmo de uma dansa é utilizado numa obra musical, este elemento indigena é deformado porque o autor se vê atraves das lunetas de Wagner ou de Saint-Saëns, se elle tiver sessenta annos, ou atraves das de Debussy, se não tiver mais de trinta.
Seria de desejar que os musicos brazileiros compreendessem a importancia dos compositores de tangos, de maxixes, de sambas e de cateretês, como Tupynambá ou o genial Nazareth. A riqueza rythmica, a phantasia indefinidamente renovada, a verve, o “entrain”, a invenção melodica de uma imaginação prodigiosa, que se encontram em cada obra destes dous mestres, fazem destes ultimos a gloria e o mimo da Arte Brazileira. Nazareth e Tupynambá precedem a musica de seu paiz como as grandes estrellas do céo austral (Centhauro e Alpha do Centhauro) precedem os cinco diamantes do Cruzeiro do Sul.
Darius Milhaud
ARIEL. Revista de Cultura Musical - Darius Milhaud. Nº 7. São Paulo, abril de 1924;