Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
SAUDADE (1913)
SAUDADE (1913)
Primeiramente publicada pela Casa Vieira Machado & Cia., veio a público a valsa Saudade (Ch. nº V.M. & C. 1493), dedicada à Maria Ambrosina da Motta Resende, “como prova de alta consideração”.
Filha do Coronel Manoel da Motta Teixeira e de Dona Francisca Carolina Gonçalves da Motta Teixeira, Maria Ambrosina da Motta Teixeira, seu nome de solteira, nasceu em Taquaraçú, Município de Caeté, Minas Gerais, aos 7 de dezembro de 1837, passando a residir, pouco mais tarde, na extraodrinária Fazenda do Rio de São João, de seus pais, em Bom Jesus do Amparo, também em Minas. Faleceu no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1921.
Casada com o Capitão Luiz Ribeiro de Souza Resende, filho mais velho dos Marqueses de Valença e engenheiro mecânico formado em Leipizig, Alemanha, teve, com ele, sete filhos dos quais somente dois chegaram a idade adulta: Carlos Maria da Motta Ribeiro de Resende (engenheiro civil) e Amélia Eugênia da Motta Ribeiro de Resende (casada com Joaquim Mariano de Amorim Carrão, engenheiro civil, responsável pela construção da Mogyana, estrada de ferro que ligava a capital de São Paulo à cidade de Franca, no interior daquele Estado).
Durante décadas, projetou-se, Dona “Mariquinhas”, entre as personalidades femininas mais importantes da alta sociedade imperial. E com seu marido, inclusive, representou o nosso país na Exposição Internacional da Indústria, no Machinery Hall de Philadelphia, Estados Unidos da América, no ano de 1876, ocasião do célebre encontro de D. Pedro II com Alexander Grahan-Bell, o inventor do telefone.
Em seu “Pavilhão Imperio do Brazil”, montado com recursos próprios, a nobre senhora procurou apresentar, dentro de vitrines, todas as fases da fabricação da seda (da lagarta ao tecido) que produzia na Fábrica de Santa Teresa, em fazenda do mesmo nome, de sua propriedade, em Itaguaí, Rio de Janeiro (e que, posteriormente, deu origem ao bairro de Seropédica).
Anos mais tarde, após enviuvar, foi morar em suntuosa chácara à Rua Campo Alegre (atual Rua Ibituruna), nº 108, no Engenho Velho, na companhia de filhos e netos. E desde que conheceu Ernesto Nazareth, por volta de 1900, já sexagenária, passou a dispensar ao ilustre artista especial atenção. Inclusive, o nosso biografado foi professor de duas de suas netas, Angélica da Motta Resende, a “Bebê”, e Amélia de Resende Carrão, a “Amelinha”, e também de uma prima destas, Laura Figueiredo de Souza e Mello, a “Laurita” (que diziam ser, na opinião do próprio músico, a sua melhor intérprete).
Certa vez, surgiu a oportunidade do Ernesto Nazareth comprar um excelente piano, um Pleyel de ¼ de cauda, por dois contos de réis. E que, segundo ele, tratava-se de um instrumento excepcional, uma oportunidade única. E ele o queria muitíssimo, não tendo, contudo, naquele momento, o dinheiro para comprá-lo... Ou só parte do dinheiro, talvez... Foi, então, procurar tia “Mariquinhas”, irmã de meu bisavô, João Nery da Motta Teixeira, para que ela comprasse o piano para ele, mas que ficasse com o instrumento até o dia em que ele tivesse os dois contos para compra-lo dela. E assim ficou acordado entre os dois. E o tempo foi passando... Passando... E um dia o compositor apareceu com a tal quantia. Mas o caso teve um desfecho inesperado, pois como já havia se passado um certo tempo e as netas de tia “Mariquinhas” se apegado ao instrumento, ela pediu ao compositor, com muita amabilidade, para que deixasse o piano na chácara; sendo o pedido prontamente atendido.
Dalmiro da Motta Buys de Barros
BUYS (de Barros), Dalmiro da Motta. Entrevista concedida ao autor. RJ, 5 de abril de 2004;
(...) Além do seu espírito empreendedor, possuía também acentuado gosto pela música. Assim, dedilhava bem a cítara, que aprendera depois dos sessenta anos de idade e o piano, onde executava, de cor, quadrilhas, dança do Príncipe, principalmente por ocasião dos aniversários e festas, etc.
Protegia todas as pessoas da família e até mesmo os amigos que desejavam estudar, ora custeando-lhes a educação, ora presenteando-os com instrumentos, como aconteceu também com o excelente piano de cauda Blütner, ao término do meu curso no Instituto Nacional de Música, hoje (1954) Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil.
Entretinha Maria Ambrozina relações de amizade com a família de Ernesto Nazareth, grande músico brasileiro, nem sempre compreendido no seu justo valor, em seu tempo, o que aliás sempre acontece, vindo o prêmio da justiça com a celebridade post-mortem. Esse saudoso compositor, correspondendo ao afeto e gratidão que votava à Maria Ambrozina, dedicou-lhe a bonita valsa (?) Êxtase, melodia essa cuja cópia fez questão de depositar no caixão daquela veneranda senhora, para acompanhá-la à última morada. (...)
Angélica de Rezende
REZENDE, Angélica de. Nossos avós contavam e cantavam... Ensaios folclóricos e tradições brasileiras. 3ª Edição ampliada, revisada e melhorada. Gráfica Editora Sion S.A. Belo Horizonte, Minas Gerais, 1968;
Segundo também nos informou Dalmiro, a partitura ou cópia manuscrita do romance Êxtase, e não “valsa”, como escreveu Angélica, estava amarrada com uma fitinha.