Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
CLUBE DO ENGENHO VELHO (1885)
CLUBE DO ENGENHO VELHO (1885)
No dia 30 de maio, sábado, Ernesto apresentou-se em outro “concerto e baile”, realizado, dessa feita, no Clube do Engenho Velho, à Rua Haddock Lobo, nº 29, bairro onde residia o pianista. Em o Jornal do Commercio encontram-se os nomes das músicas, respectivos intérpretes e ainda a informação de que o jovem artista (por incentivo a seu talento ou simpatia pessoal) foi quem abriu o programa com La Fileuse, de Joachim Raff (1822/1882), antigo assistente de Franz Liszt. Essa obra sempre fez parte do repertório clássico de Nazareth, assim como, do mesmo autor, Rigaudon e a valsa Favorita.
Duas presenças também me chamam a atenção: Julieta Bevilacqua e Vincenzo Cernicchiaro (1858/1928). Julieta era filha de Alfredo Bevilacqua e Cernicchiaro, por sua vez, violinista e compositor italiano, viria a se tornar, de acordo com o Dicionário de Música Zahar, um dos pioneiros de nossos estudos musicológicos tendo publicado, na Itália, em 1926, curioso livro sobre a história da nossa música e de algumas personalidades.
CERNICCHIARO, Vincenzo. Storia della musica nel Brasile. Fratelli Riccioni. Milano, 1926;
CLUB DO ENGENHO VELHO - Mais uma boa festa deu-nos ante-hontem esta sociedade, cujos salões parecião pequenos para a grande quantidade de pessoas da nossa melhor sociedade, que toda noite, depois da audição do concerto, entregárão-se com ardor á dansa. O concerto, esmeradamente organisado pelo Sr. Antonio Weguelin, constou de 10 trechos, divididos em duas partes. Deu princípio ao concerto a conhecida peça La Fileuse, de Raff, executada ao piano pelo Sr. Nazareth. O Sr. Cerrone, um dos nossos artistas predilectos, executou no seu violoncello uma bonita fantasia de Braga intitulada Souvenir d’Amerique, que pela nitidez de execução mereceu do auditorio muitos applausos. O Sr. Rossi, cuja voz de baixo é justamente apreciada nos salões fluminenses, cantou dous trechos: l’Esule, de Gurjão, e Salvador Rosa (Il folglio segnero), de C. Gomes. Le Reveil des Fées é o título de um solo para piano de E. Prudent, que foi executado pela Sra. D. Luiza Dias. A Sra. D. Elvira Navarro cantou um romance de Salvador Rosa (volate, volate), de C. Gomes, e a aria do Trovador (d’amor sull’ali), de Verdi. Em ambos os trechos a distincta amadora soube fazer a sua bella e volumosa voz de soprano; canta com muita correcção, faltando-lhe apenas, se nos é permittido dizer, um pouco de animação nos trechos, que tão bem costuma interpretar. O trecho que encetou a segunda parte foi a symphonia de Aroldo, de Verdi, para dous pianos e oito mãos, pelas Sras DD. Manuelita e Marieane de Vasconcellos, Julieta Bevilacqua e Amalia Weguelin. A execução foi boa. Uma das peças que mais agradárão foi o solo de piano, de Raff, intitulado Rigaudon, executado pela Sra. D. Maria Freitas. Esta moça, uma das primeiras discipulas de Bevilacqua, interpretou muito bem o trecho. A sua execução é muito nitida: tem no piano o desembaraço de uma jovem artista. Terminou o concerto com o trio em si bemol, de Rubinstein, para piano, violino e violoncello, pelos Srs. V. Cernicchiaro, J. Queiroz e J. Cerrone. Foi o trecho mais importante do concerto. Para dizer qual foi a sua execução basta citar os nomes dos seus tres interpretes. Toda a directoria da sociedade é digna de encomios pelo brilho das suas festas; permitta ella, porém, que citemos o coronel Brito, o incansavel mestre sala, que não poupa para todos, socios e convidados, os maiores desvelos. Esta festa, que já é a 30ª da sociedade, terminou pouco depois das 4 horas da madrugada.
JORNAL DO COMMERCIO. Rio de Janeiro, lº de junho de 1885;