Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
O DR. MEIRELLES E SUAS FILHAS
O DR. MEIRELLES E SUAS FILHAS
João Baptista Boaventura Soares de Meirelles tinha verdadeira adoração por suas filhas, originando-se daí um exagerado ciúme. Para o médico, elas seriam “as flores que enfeitavam o árido caminho de sua existência”. E enquanto pudesse mantê-las debaixo do seu domínio patriarcal, sentia-se o homem mais feliz do mundo. Nada lhe dava mais prazer do que estar assentado em alguma poltrona confortável, com um livro na mão, tendo à frente a esposa e as cinco moças (Maria Emília, Theodora Amália, Joanna Leonísia, Emerenciana Amália e Guilhermina Adelaide) entretidas com seus bordados e, mais adiante, “queimando as pestanas” sob a luz de uma lamparina, envolto em intermináveis deveres escolares, o único rapaz (João Baptista Filho).
O hábito de tricotar e manter as novidades em dia, ao som de vozes praticamente sussurrantes, seria mantido pelas irmãs Soares de Meirelles por toda a vida. Mesmo velhinhas, lá estariam com seus eternos bordados a conversar bem baixinho. De vez em quando, uma ou outra risadinha mais alta denunciava alguma animação. De quais assuntos tratavam? O último sermão do padre da paróquia local, quem iria se casar, quem seria batizado, o aniversariante do mês, o santo do dia, quem morreu, quem nasceu, uma receita nova para trocar com as primas, etc...
A característica dos Meirelles eu acho que era a calma. Porque todos eram de uma tranqüilidade, de uma suavidade, uma coisa extraordinária. Hoje, mesmo nas melhores famílias, quando algumas moças se reúnem, quase sempre as conversas trocadas, além de extremamente barulhentas, só não são mais inúteis ou pornográficas por falta de vocabulário!...
Paulo de Tarso Leal
LEAL, Paulo de Tarso. Depoimento por escrito feito especialmente para o autor. RJ, 12 de agosto de 1992;