Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
A SEGUNDA APRESENTAÇÃO DE ERNESTO NAZARETH (1880)
A SEGUNDA APRESENTAÇÃO DE ERNESTO NAZARETH (1880)
Já com a preciosa colaboração de Alexandre Dias, chegou ao nosso conhecimento a segunda mais antiga apresentação pública de Ernesto Nazareth, realizada dois dias depois da primeira, aos 10 de março, mas em local que a Gazeta da Noite não identifica.
PALCOS, SALÕES E CIRCOS
Realisou-se hontem o concerto do sr. Arthur Camillo. Foi sem duvida alguma o maior concerto que temos assistido; para confirmar o que dissemos, basta saber-se que constou de trez peças, que foram as seguintes: Africana, de Liszt, pelo sr. Arthur Camillo, uma composição de Gottschalk pelo mesmo senhor, e uma grande phantazia a quatro mãos pelos srs. Eduardo Madeira e Ernesto Nazareth (Propheta, de Meyerbereer).
Dando parte ao publico de incomodado, o sr. Arthur Camillo, terminou o seu concerto, pois a falta de seus companheiros e seu estado de saude o impediam de seguir á risca o programma annunciado.
Se é do nosso dever censurar os artistas que assim faltaram com a sua palavra empenhada para com o talentoso pianista, que, fiado n’elles, annunciou o seu concerto; levados ainda por esse dever, somos tambem obrigados a dizer ao sr. Arthur Camillo que, se seus companheiros não procederam bem com s.s. o sr. Arthur tambem não foi cavalheiro para com o auditorio, ainda que limitado porem escolhido que o ouvia. Um concerto annunciado póde ser transferido até á hora em que deveria principiar, porem depois de principiado, quando ainda nem ao menos vae em meio de seu programma, não pode dar-se como realisado.
O auditorio que ouvia o joven e inteligente pianista ter-se-hia retirado mais satisfeito se s.s. depois de ter principiado o seu concerto, esperando em vão seus companheiros, tivesse pedido desculpa ao publico e o transferisse para outro dia.
O sr. Arthur Camillo é moço ainda e por isso irreflectivo, tem bastante talento, já bastantes louros tem recebido e aquelles que o ouviram, ainda desejam aplaudil-o com enthusiasmo nas composições dos grandes mestres interpretadas com verdadeiro sentimento por s.s.
Esperamos que por outra vez não aconteça o mesmo.
Aos. Srs. Madeira e Nazareth, os nossos sinceros cumprimentos.
GAZETA DA DOITE. Rio de Janeiro, 11 de março de 1880;