Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
OLYMPIO NOGUEIRA
OLYMPIO NOGUEIRA
Nascido em Campos dos Goytacazes (RJ), aos 22 de junho de 1878, o ator, cantor, violinista e compositor Olympio Nogueira fez sua estréia no teatro com a idade de doze anos, interpretando uma menina na peça do ator Vasquez intitulada “Lágrimas de Maria”. Tempos depois, em “Juiz... sem juízo”, segundo palavras de Arthur Azevedo (1855/1908), “coube a palma do desempenho ao jovem artista, apesar de um tanto exagerado”.
Em 1904, Olympio gravou pela Casa Edison-Odeon, nº 10.042, o tango “Zé da Lira”, que alcançou grande popularidade.
Mais tarde, por volta de 1908, ao procurar aprimorar seus conhecimentos de violino com o afamado Nicolino Milano, mesmo professor de Diniz Nazareth, Olympio iniciou fraternal amizade com este filho de Ernesto Nazareth, amizade posteriormente estendida ao próprio compositor.
Com seu nome consagrado, principalmente por representar muitas vezes o papel de Jesus Cristo na peça “Martyr do Calvario”, Olympio, a partir de 1909, já dividia suas performances entre os palcos do Rio e Lisboa; tendo conhecido, inclusive, na capital portuguesa, a jovem atriz Marianna Soares, bela lusitana com quem se casou.
Em 1910, nasceu, em Lisboa, o único rebento do casal, Anna Olympia Soares Nogueira que, por sua vez, geraria os cinco netos que Olympio jamais conheceria: Ione, Eduardo Olympio, Zulma Maria, Oswaldo (falecido ainda criança) e Regina.
Sua popularidade, contudo, nunca o credibilizou junto aos críticos mais severos, pois até de seu cavalo-de-batalha foi possível encontrar comentários do tipo:
O Jesus de Olympio parecia um boneco de molas e corcunda. Aquella expressão de um vencido tambem é falsa. Em conclusão: o intelligente actor não reproduziu nem physica nem moralmente o Messias. Todavia, Olympio Nogueira é, dentre os novos, um dos de mais talento. Promette ser um artista de valor e que honrará sua Pátria. Criterioso como é, não lhe será difficil vêr perto o dia do seu triumpho completo.
Henrique Marinho
ALMANAQUE D’O THEATRO. Theatros particulares, Capital Federal. Anno primeiro. Rio de Janeiro, 1906/1907;
Em suas memórias , o escritor Luiz Edmundo fala-nos do constrangimento vivido por Olympio, certa feita, quando “pregado” à cruz, aguardando o final do intervalo, distraído, não percebeu as cortinas se abrindo. E pela primeira vez na história “descobriu-se” que Jesus, pouco antes de morrer, ainda teve tempo para fumar um cigarrinho!...
EDMUNDO (de Melo Pimenta da Costa), Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo. V Volumes. Livraria e Editora Conquista. Rio de Janeiro, 1957 (2ª Edição);
Se nos dias de hoje, o nome de Olympio Nogueira não se encontra no mais absoluto esquecimento, assim como o de tantos de sua geração, isso se deve ao carinho dos seus descendentes e também ao fato de Ernesto Nazareth ter dedicado a ele, em 1913, o tango “Carioca”, obra que alcançaria estrondoso sucesso e dezenas de gravações em discos, tanto no Brasil quanto no exterior.
E seria conveniente lembrar, ainda, que Olympio, em uma de suas aventuras pelos caminhos da composição, trouxe à luz uma obra, talvez a única que se conhece dele, intitulada Suíte! (inédita), inspirada nas operetas Diabinho de saias e Papae Guilherme, e apresentando o seguinte oferecimento, em seu manuscrito:
Ao bom camarada o maestro
Ernesto Nazareth, offerece o
Auctor esta insignificancia
Rio, 11/5/1914.
COLEÇÃO LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA. Rio de Janeiro;
Olympio veio a falecer em 18 de outubro de 1918, três meses depois de completar 40 anos, em decorrência da gripe “Hespanhola”, famigerada epidemia que assolou o mundo todo. Morava, então, à Rua do Resende, nº 48, em sobrado geminado que até hoje se encontra de pé.
Ele se dava muito com meu irmão. E foi pelo Vicente (Celestino) que eu soube que ele havia contraído a “Espanhola” e antes de ficar totalmente curado, tendo que resolver alguma coisa, algum negócio na cidade, teve um colapso em plena rua, morrendo ali mesmo, no meio da rua.
Amadeo Celestino
CELESTINO, Amadeo. Entrevista prestada ao autor, no Retiro dos Artistas. Rio de Janeiro, s/d;
Partia, assim, para a eternidade, um dos mais populares atores que o teatro brasileiro conheceu. E como a cidade ainda chorava por seus milhares de mortos, o corpo de Olympio Nogueira desceu à sepultura acompanhado somente pelos olhares da esposa e de poucos amigos.