Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
ERNESTO É PROIBIDO DE TOCAR
ERNESTO É PROIBIDO DE TOCAR
Além da perda da mãe, o menino Nazareth também se viu às voltas com mais outro dissabor: seu pai o proíbe de tocar.
Sósinho, sem o amparo daquella que tão bem o comprehendia, Ernesto ficou entregue á rigida, mas bondosa autoridade paterna que, contrariando-o em seu pendor natural, preocupava-se em educar o filho numa carreira com que elle pudesse assegurar-se, mais tarde, na vida. O piano, naquelle tempo, não era lá uma profissão que se escolhesse para ninguem...
Francisco Acquarone
VÓZ DO VIOLÃO (A). Ernesto Nazareth. Francisco Acquarone. Anno I - nº 2. Rio de Janeiro, março de 1931;
VÓZ DO VIOLÃO (A). Ernesto Nazareth. Francisco Acquarone. Anno I - nº 3. Rio de Janeiro, abril de 1931.
Mas, não teria sido somente o preconceito de Vasco a causa principal de tudo isso. Sem dúvida, o som do instrumento seria outra forte razão ao reviver no viúvo a lembrança saudosa e pranteada da esposa. Nada mais compreensível.
Por sua vez, o menino, desgostoso, passou a alimentar-se mal e a apresentar certo abatimento. Preocupado com a saúde do filho, que naquele estado ficava à mercê de toda uma série de doenças típicas da cidade infecta na qual moravam, seu Vasco, para evitar o pior, acabou cedendo aos “apelos” da criança, mas não sem antes lhe impor duas exigências: que não tocasse com o mesmo afinco de antes (procurando, desse modo, cercear qualquer progresso pianístico) e, principalmente, que não pusesse as mãos no piano quando ele (o pai) estivesse em casa.
Todavia, de volta ao teclado, o jovem artista continuou a tocar e a estudar com mais vontade do que antes, vindo a cumprir somente a última exigência.
Seu pae olhava desalentado para a vocação do filho, crente de que esta não traria jamais o futuro brilhante que elle sonhava para o seu Ernestinho; convencido, porem, da inutilidade de quaesquer esforços para desviar o pequeno dos seus verdadeiros pendores, resolveu abandonal-o á propria vocação.
Francisco Acquarone
VÓZ DO VIOLÃO (A). Ernesto Nazareth. Francisco Acquarone. Anno I - nº 2. Rio de Janeiro, março de 1931;
VÓZ DO VIOLÃO (A). Ernesto Nazareth. Francisco Acquarone. Anno I - nº 3. Rio de Janeiro, abril de 1931.