Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA (1922)
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA (1922)
Aos 16 de dezembro, às 16 horas, no Instituto Nacional de Música, à Rua do Paseio, realizou-se uma “audição de 30 Compositores Brasileiros (peças breves para piano) por alguns alumnos de Luciano Gallet, para que conheçamos o que é nosso”. Não conseguimos localizar o programa, mas, sem dúvida, o momento mais importante foi quando Ernesto Nazareth, o convidado de honra, apresentou-se, na parte final, tocando quatro de seus tangos: Brejeiro, Nenê, Bambino e Turuna.
Gallet quis ampará-lo no infortúnio, quando soube, por Darius Milhaud, que a música daquele homem simples, que tocava inclinado sobre o teclado, procurando a custo ouvir os sons que lhe fugiam, era de extraordinário valor artístico. O nosso público, os nossos artistas e até os frustrados que aqui se dedicam à crítica musical, têm essa atitude singular: só entendem que um artista “é bom de verdade”, quando a notícia vem de fora. A fala de casa, ninguém entende...
Baptista Siqueira
SIQUEIRA, (João) Baptista. Ernesto Nazareth na Música Brasileira; ensaio histórico-científico. Gráfica Editora Aurora Ltda. Rio de Janeiro, 1967.
Contudo, o evento só não transcorreu da melhor maneira possível por causa de um grupo que, obviamente visando atingir a pessoa de Gallet (destacado representante do movimento “modernista”), aproveitou a participação de Nazareth (um músico popular) para, daí, criar tumulto, que só terminou, por mais incrível que possa parecer, com a intervenção da polícia.
Crítica desfavorável a ele (Nazareth), não acreditamos que tenha existido. Mas, rancor havia muito: basta relembrar aquele triste episódio do concerto do Instituto Nacional de Música, em 1922, promovido por Luciano Gallet; que precisou da garantia policial, somente porque seu nome constava do programa. Ora, pessoas de ânimos exaltados somente porque aparece o nome de um compositor programado numa instituição qualquer, não é obra do acaso. Houve uma instigação qualquer, vez que é sabida a imparcialidade do povo diante de assunto de tal relevância. Ninguém se iluda: esses incidentes sem prestígio no meio popular, sem vinculação alguma com suas atividades sociais, sem razões emocionais ponderáveis, podem agitar, por instantes, massas inconscientes, mas o reverso se dará nas páginas da História! Na alma do artista, todavia, onde a sensibilidade se apurou na mais cristalina essência, o efeito de tais ocorrências teve repercussão descomunal! Sua memória, abalada em tal sentido, nunca mais deixou de ir num ralentando trágico até aquela fermata, do fim dos seus dias...
Baptista Siqueira
SIQUEIRA, (João) Baptista. Ernesto Nazareth na Música Brasileira; ensaio histórico-científico. Gráfica Editora Aurora Ltda. Rio de Janeiro, 1967.