Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
NO TREM PARA “SÃO PAULO”
NO TREM PARA “SÃO PAULO”
Mesmo transtornado pela doença, acredito que Ernesto jamais esquecera São Paulo, pois, certa feita, retornando à Colônia, após um de seus passeios pelo Centro do Rio, surgiu determinada situação que corrobora com esse meu parecer.
Uma vez, nós viemos de trem até Madureira e quis tirar ele em Cascadura. Não consegui tirar ele do trem, em Cascadura. Então, avisei o cara da composição que eu ía tirar um doente em Madureira; se não, não tirava também... Não dava tempo, ele ficava fazendo resistência.
“ - Quero ir para S.Paulo... Nós não vamos para S.Paulo?... Você não disse que nós vamos para S.Paulo?...”
E tirei ele agarrado, no muque, para descer. Antigamente, em Madureira, para descer, o trem seguia por fora da estrada, saía por um desvio para pegar uma estradinha que levava para Dona Clara. E, em Dona Clara, tem um lugar onde o trem fazia a volta, e vinha novamente para a cidade. E se eu, lá (em Madureira), não tiro ele, na força, ele não saía... E teria que tirar lá em Dona Clara.
E um coronel do Exército, quando viu eu agarrado com ele, fazendo força com ele, o coronel chegou e disse: “ - O senhor não pode fazer isso!... Isso é uma violência!...” E eu disse: “ - Então, o senhor toma conta dele... Leva ele para a Colônia... Eu vou levar ele para a Colônia... Ele é um doente mental, está internado lá...” E o coronel sumiu. Quando falei que era doente mental, o coronel sumiu...
Bento d’Ávila
ÁVILA, Bento Manuel Moreira de. Entrevista concedida ao autor. RJ, 1979;