Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
NÃO CAIO N’OUTRA!!! (1881)
NÃO CAIO N’OUTRA!!! (1881)
Em 1880, o flautista e compositor Viriato Figueira da Silva teve publicada a polca Caiu! Não disse? E no ano seguinte, entre os meses de setembro e outubro, Ernesto, por sua vez, viu editada pela Imperial Imprensa de Música de Viúva Filippone, situada à Rua do Ouvidor, nº 93, a polca Não caio n’outra!!!, dedicada “a seu amigo e collega Frederico Mallio”, cujo título seria uma “resposta” à polca de Viriato.
Quando em uma performance musical, um dos participantes, solista ou acompanhador, atrapalhava-se na execução de qualquer peça mais complicada, alguém logo lhe aplicava um sonoro: “ - Caiu, hein!... ”
E é interessante notarmos que os compositores Alexandre G. de Almeida e Anacleto de Medeiros (1866/1907), contemporâneos de Viriato e Nazareth, também se aproveitaram da mesma expressão em Se caiu, levante-se!... (s.d.), polca do primeiro, e Ai, eu cahi!... (1889), “tango” do segundo.
No oitavo compasso da terceira parte de Não caio n’outra!!!, causa-me surpresa a expressão “com graça”, em português, o que era uma inovação para a época.
Em geral, os termos empregados por Nazareth em português são: ou substitutos dos consagrados, ou conhecidos em outros idiomas (italiano, francês), assumindo, às vezes, verdadeira tradução, ou representam contribuição original, autêntica riqueza, partindo da necessidade de o artista poder manifestar melhor o seu pensamento, como poder extravasar o seu modo de sentir.
Jaime C. Diniz
DINIZ, Jaime C. Nazareth - Estudos analíticos. DECA - Departamento de Extensão Cultural e Artística. Recife, 1963;
Realmente, traduzir para o vernáculo, na medida do possível, alguns termos estrangeiros, foi importante ao processo de sistematização da música “genuinamente” brasileira. Contudo, até onde chega o nosso conhecimento, seria mais correto reclamarmos à Francisca Gonzaga a “contribuição original” apregoada pelo Padre Diniz, pois em seu “tango”, Seductor, editado em 1877, já encontramos “com gosto”, “com alma” e “embalando”.