Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
EPONINA (1913)
EPONINA (1913)
Primeiramente publicada pela Casa Vieira Machado, achamos a valsa Eponina (Ch. nº V.M. & C. 1492), dedicada ao amigo Virgílio Werneck Corrêa e Castro.
Quanto à Eponina, em questão (e não Epônina, como já vimos em muitas publicações), tratava-se da bela filha do casal Francisco Xavier da Silva Guimarães e Laurecênia Ribeiro Guimarães: Eponina Guimarães (de Menezes, depois de casada).
Nascida em Niterói, por volta de 1885, aos 26 anos tornou-se esposa de um conceituado médico, também da mesma cidade, Dr. Justino de Menezes. Em 1912, nasceu o único filho do casal: Maria da Conceição Guimarães de Menezes (Tinoco), mais tarde casada com Brígido Tinoco (1910/1982), ex-prefeito de Niterói e deputado federal. Eponina, que conheceu Ernesto Nazareth mais ou menos em 1905, faleceu em dezembro de 1960, aos 75 anos.
Em entrevista a mim concedida, em 1988, Dona Conceição declarou o seguinte a respeito da história dessa valsa:
Raramente se falava de Ernesto Nazareth ou se tocava alguma coisa de Ernesto Nazareth... Em um sarau ou outro, em que certos pianistas tocavam e diziam: “ - Ah! Isso aqui é de Ernesto Nazareth!...” E aquela música cheia de vida, aquele ritmo dele, peculiar... E a minha mãe dizia simplesmente isso: “ - Eu conheci o Ernesto Nazareth, porque ele era professor de piano de uma vizinha (à Rua Visconde do Rio Branco, centro de Niterói) e muito amiga: Phoebe Carvalho...”; que mais tarde casou-se com o Dr. Bastos Mello. E Phoebe, ainda mocinha, solteira, vivendo com os pais em casa, era aluna de Ernesto Nazareth. E mamãe disse que algumas vezes, indo passar a tarde com as amigas, e tudo isso, o Nazareth chegava para dar aulas de piano a Phoebe. Agora, nunca mais ouvi falar em Nazareth.
A história que eu vou lhe contar é uma história que tem uma interrupção talvez de uns 15 ou 20 anos, talvez, porque havia uma família em Niterói, de gente muito ilustre, muito digna, tudo isso, que um deles, o Dr. Alfredo Bahiense, que veio até a ser prefeito de Niterói... Mas, quando começou a era do rádio e todas as pessoas, nos domingos, a grande novidade era ter um radinho, e ouvir... Então, muitos músicos que estavam esquecidos ou só eram tocados ou cantados num sarau ou festas, tudo isso, passavam a ser tocados no rádio e o programa de todo mundo era ouvir rádio. Era o grande programa nas casas de família. Quando foi um belo dia, o Dr. Bahiense tocou o telefone lá pra casa e disse assim, correndo no telefone: “ - Aqui é Alfredo Bahiense, liguem depressa na Rádio Nacional, escutem uma música e depois eu falo!...” Nós corremos e ligamos a música. E estava uma valsa muito bonita sendo tocada, e nós ouvimos até o fim. Quando terminou a música, para surpresa nossa, o speaker disse: “ - Acabamos de tocar a valsa Eponina, de Ernesto Nazareth.” E nós dissemos: “ - Ah! Certamente, é porque essa música ele (Dr. Bahiense) ouviu e tem o nome de Eponina.” Não demos, assim, importância... Mas, daí a pouco, o telefone bateu e era o Dr. Bahiense, e então ele disse: “ - Bem, agora que o Ernesto Nazareth já morreu, e eu nunca mais ouvi essa música, estou ouvindo agora, pela primeira vez... E agora eu posso contar o que sei a respeito dessa música. Eu entrei, eu era amigo do Nazareth, eu entrei na casa (!) do Nazareth e ele estava no piano tocando uma valsa muito bonita, e ele perguntou:
‘ - O que é que você acha dessa música... É bonita essa valsa?...’
Ah! (respondeu Bahiense) Muito bonita... Estou gostando muito... E, aí, o Nazareth disse:
‘ - Bahiense, eu me inspirei nessa valsa vendo uma das moças que eu acho a mais bonita que já vi na minha vida, e dei o nome dela, Eponina, a filha do coronel Guimarães!...’”
O Nazareth achou uma coisa muito boa, muito bonita... Mas ele... Aí é que é o problema que eu acho psicológico. Veja você: pra mim, hoje, isso é motivo de vaidade, de orgulho, saber que minha mãe, com a beleza dela, inspirou o Nazareth e ele botou o nome dela numa valsa. No entanto, o Nazareth virou-se para o Bahiense e disse:
“ - Alfredo, pelo amor de Deus, isso que eu estou revelando a você, essa empolgação, essa admiração pela beleza da Eponina, eu quero que você não conte a ninguém... Segredo absoluto!... Porque eu tenho muito receio que o coronel Guimarães se ofenda d’eu me inspirar na beleza da filha dele!...”
Meu avô era um político da cidade (de Niterói), era Presidente da Câmara. Meu avô foi um homem que morreu no Palácio do Ingá, como Presidente do Estado... Era uma pessoa ilustre, tinha aquela filha única, muito bonita, não havia príncipe encantado que pudesse chegar à janela da minha família. E o Bahiense, a pedido dele (Nazareth), com aquela veemência muito grande, nunca falou sobre a música, nunca mais ouviu a música e nem sabia que a música ainda existia... E, naquele dia, ouvindo o rádio, quando ele ouviu Eponina, de Ernesto Nazareth, veio tudo à lembrança, e disse: “ - Mas, agora que o Ernesto Nazareth não está mais vivo, o seu “Chico” já morreu, a Eponina precisa saber o que o Ernesto Nazareth fez...” Parece que o Bahiense disse: “ - Você não vai dedicar essa música a Eponina?...” Aí é que ele (Nazareth) disse:
“ - Deus me livre!...”
E ficou aí a Eponina, com esse segredo, anos e anos. Mamãe ficou muito satisfeita, muito envaidecida, pois naquele tempo o Nazareth já era o Ernesto Nazareth, respeitado, admirado como grande compositor, essa coisa toda...
Maria da Conceição Guimarães de Menezes Tinoco
TINOCO, Maria da Conceição Guimarães de Menezes. Entrevista concedida ao autor. RJ, 24 de março de 1988;