Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
PRIMEIRA CARTA DE J. B. VASQUES (1927)
PRIMEIRA CARTA DE J. B. VASQUES (1927)
S.Paulo, 14 de Abril, 5ª feira Santa, de 1927.
Meu caro Maestro Nazareth.
Muita saudade.
Desejo que o Sr. esteja bem e assim toda a sua Exma. Familia.
Nós vamos bem, felizmente, trabalhando bastante, fazendo sempre cousas úteis.
A sua segunda carta, de 30 do mez passado, como a primeira, de 28, que se desencontrou da minha, encheram-nos de immenso prazer.
Estando na Casa Bevilacqua, contei ao Carlos Póvoa e ao Sr. Carvalho que o Sr. mesmo havia levado, de automóvel, a machina do seu piano para ser concertada e que, assim, o piano ficou perfeito, magnifico e que, para experimentar, depois, deu um concerto em sua casa, aos vizinhos, tendo sido applaudidissimo, como se fosse aqui em S.Paulo...
Ante-hontem encontrei-me com a Senhorita Assumpta La Scaléa, na r. Direita, tendo lhe dado muitas lembranças suas à Senhorita Helena e aos outros da casa. Ella agradeceu muito e me disse que o Sr. Domingos (pai de Helena e Assumpta) havia chegado bem, já tinha sido operado e se achava em bôas condições.
O pessoal do Sr. Jacintho, não tenho visto.
Hontem à tarde, estando na Casa Bevilacqua, pedi á D. Alda para tocar uma musica das suas. Eu estava com tanta saudade... Depois de muito rogar consegui que ella tocasse uma, que foi o “Quebra-Cabeça”. Sahiu bem tocado, sem a vida que o Sr. dá, já se vê, mas bem tocado, limpo.
Em seguida eu comprei o Escovado, “o meu Escovado”, tendo-o tocado, então, o Carlos Póvoa.
Ha poucos dias irradiaram um programa no qual tomou parte, como figura principal, D. Sara Benzio. Eram canções com acompanhamento de côro. Bonitas musicas, mas, a mim, só serviram para sentir que ella não tivesse cantado “Extase”, tão lindo!... Tu és a minha vida...
Meu caro maestro Nazareth: hoje é quinta feira Santa. Está um lindo dia, sympathico, temperatura agradavel, grande movimento nas ruas.
Si o Sr. estivesse aqui, quem sabe?, Talvez almoçassemos juntos, em casa, um vatapá...
Como vão o Ernestinho, D. Esther, os outros que eu conheço de nome e pelo retrato a senhorita sua filha, aquella que está num grupo e que eu, sem saber que era a sua filha, disse que era a mais bonita?
Peço-lhe dar lembranças á Gabriella, Marcolino, Zilah e Naïr.
Muitas saudades “de todos” de casa e dos da Casa Bevilacqua.
Affectuosamente, seu amigo,
J. B. Vasques
R. da Gloria, 140
COLEÇÃO LUIZ ANTONIO DE ALMEIDA. Rio de Janeiro;