Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
OS “CHOPES BERRANTES”
OS “CHOPES BERRANTES”
O escritor e acadêmico Luiz Edmundo (1880/1961), procurando deixar registradas em um “simples livro de memórias”, segundo suas palavras, as experiências vividas por ele, principalmente no início do século XX, legou-nos obra magistral intitulada O Rio de Janeiro do meu tempo.
Ernesto Nazareth, além de ter sido citado algumas vezes, sem grandes revelações, teve também seu retrato, a bico de pena, de Porto Júnior, reproduzido em uma de suas páginas. Todavia, o pouco que encontramos não deixa de ser fonte fidedigna do quanto popular foram as composições de nosso biografado “no tempo” de Luiz Edmundo, assim como Aurélio Cavalcanti e Francisca Gonzaga. Vejamos:
Os chopes berrantes das ruas do Lavradio, Visconde do Rio Branco, Lapa e adjacências, suprem, para o homem de pequena bolsa, entre nós, o music hall de espavento, que pode dar-se ao luxo de exibir cançonetistas franceses, malabaristas japoneses ou número de pantomima americana ou alemã. É um centro de diversões modesto, onde o ticket de entrada é substituído pela obrigatoriedade de uma consumação qualquer. (...) Os mais importantes estabelecimentos possuem orquestras de cinco ou seis figuras, ou o clássico terceto de flauta, violão e cavaquinho. Há, porém, os que mostram apenas um modesto e estafadíssimo Pleyel de aluguel, sobre o qual um pianista, quase sempre mestiço, de fraque, cabeleira em palanque e gravata-de-laço-borboleta, exercita a sua musculatura atirando sobre o indefeso e frágil instrumento punhadas violentas. (...) Quase ao chegar à rua da Relação, há um desses modestíssimos berrantes. Entremos. (...) O pianista, que terminou uma valsa de Aurélio Cavalcanti, compositor de fama, autor das melhores músicas de salão que se dançaram pelo tempo, rival do grande Ernesto Nazareth, ataca os compassos de uma cançoneta que truculenta francesa, quadragenária e feia, de peitarra vasta e voz enorme, começa a berrar sobre o estradote, com o intuito manifesto de impressionar a massa. (...) Já os das mesas perto do piano começam a pedir, findo o último couplé da francesa:
- Brejeiro, de Nazareth, pianista!
- Corta-jaca!
O pianista sorri, complacente. O pianista não quer outra coisa senão esmurrar o piano. (...) Depois, estremecendo, de novo, o piano, em arrancos violentos, outra valsinha de Aurélio Cavalcanti, uma schottisch do jovem Floriano de Lemos, um maxixe de Ernesto Nazareth, ou uma polquinha de Chiquinha Gonzaga...
Luiz Edmundo
EDMUNDO (de Melo Pimenta da Costa), Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo. V Volumes. Livraria e Editora Conquista. Rio de Janeiro, 1957 (2ª Edição);