Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
CONCERTO NO STUDIO NICOLAS (1932)
CONCERTO NO STUDIO NICOLAS (1932)
Dedicado à Imprensa Carioca, à referida Sociedade Sul-Riograndense e aos amigos do compositor, o recital de Ernesto Nazareth no “Studio Nicolas” realizou-se aos 5 de janeiro, terça-feira, às 17 horas. Quanto ao programa:
I Parte - Extase (romance), Improviso e Polonesa;
II Parte - Expansiva (valsa) e Elegantíssima (valsa capricho);
III Parte - Brejeiro, Tenebroso, Labirinto, Nenê, Gaúcho e Carioca (tangos).
CORREIO MUSICAL
AUDIÇÃO DE ERNESTO NAZARETH
A festa de Ernesto Nazareth, hontem á tarde realizada no salão Essenfelder, do Studio Nicolas, teve cunho familiar e carinhoso, como se o publico, despindo-se de todas as normas protocollares, quizesse homenagear mais sinceramente o incontestavel precursor da musica brasileira.
Antes de ter inicio o concerto, Gastão Penalva pronunciou algumas palavras de elogio poetico e recordações intimas, evocando a figura de Nazareth em tempos idos, acabando por tornar publica, numa revelação comprehensivel, a grande admiração que Henrique Oswald, o grande mestre da musica severa e aristocratica, sentia pelo não menos grande mestre da musica expressiva e popular. O justificado dithyrambo foi acolhido com uma salva de palmas.
Dando, então, começo ao concerto, Ernesto Nazareth executou com todos os requintes de que dispõe ao piano, e não são poucos, “Extase”, “Improviso” e “Poloneza”...
É de notar que, mesmo nestes tres generos (e elles não constituem a sua especialidade), Nazareth ainda conserva as prerrogativas peculiares que o tornam inconfundivel entre os compositores do Brasil! O mesmo poderiamos dizer a respeito das valsas: “Expansiva” e “Elegantissima”.
Depois da execução da “Poloneza”, o illustre pintor polaco Bruno Lechowsky offereceu a Ernesto Nazareth um bello quadro de sua autoria, beijando-se affectuosamente os dois artistas. Influencias fraternaes do meio ambiente...
Na terceira parte - a mais interessante para o auditorio - brilharam com todo o fulgor as qualidades admiraveis do mestre para o que é definitivamente brasileiro, isto é, o rythmo, o contraponto violeiro, a toada, o caracter nacional da syncopa, da melodia e da dengosidade.
“Bregeiro”, “Tenebroso”, “Labyrintho”, “Nenê”, “Gaúcho” e “Carioca”, tangos de feição maravilhosa e suggestiva, modelos do genero. Nelles não ha quem não perceba a verdadeira obra creadora de Ernesto Nazareth. Essas composições lhe reservam logar de destaque na florescencia futura da musica brasileira.
O exito do compositor foi verdadeiramente triumphal, obrigando-o ainda á execução de um “Jongo” typico e magistral, e de um bis sentimental, com “Romance”.
Nazareth não precisa de credenciaes para sua proxima tournée ao Rio Grande do Sul. Mas, se acaso as necessitasse diriamos simplesmente: é um grande artista brasileiro - o mais brasileiro de todos.
CORREIO DA MANHÃ. Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1932;
Duas observações: esse “Jongo” trata-se, na realidade, do “tango” Quebra-cabeça, e o “Romance”, por sua vez, deve ter sido o Adieu.