Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
YARA DE SOUZA PIGLIASCO (1932)
YARA DE SOUZA PIGLIASCO (1932)
Uma vizinha de Ernesto Nazareth à mesma Travessa Dr. Araújo, Yara de Souza (Pigliasco, depois de casada), nascida em 19 de julho de 1911, filha do casal Antonio José de Souza e Augusta Francisca de Souza, declarou-me, nove dias antes de completar 89 anos, o seguinte:
Eu era muito menina (21 anos!...) na época, e me lembro de pouca coisa. Tanto a minha casa quanto a do Ernesto Nazareth ficavam no final da rua. Eram casas grandes, em centro de terreno. Ele muitas vezes ficava sentado no jardim, olhando para o chão, sozinho. A família era muito arredia. Eulina só atendia as pessoas da janelinha da porta. Eles tinham vergonha de nós, vizinhos, por causa da situação do pai. Isso era compreensível, mas todos nós entendíamos aquela situação, e respeitávamos a dor da família. Eulina e Esther eram pessoas gentilíssimas e o “Ernestinho” me parecia um sujeito muito mimado. Ele (“Ernestinho”) tinha a saúde muito delicada. Tocava também piano, mas não como o pai... O Ernesto Nazareth deve ter sido um homem muito bonito na juventude, pois mesmo velho ainda apresentava traços encantadores. Ele era muito reservado. Não conversava com ninguém. Sempre que saia, sozinho, andava cabisbaixo, desconfiado, com a cabeça quase que enfiada no peito. Uma vez eu cheguei a cumprimentá-lo, mas naqueles tempos as pessoas eram muito reservadas, não saíam por aí conversando com todo mundo, tipo político em campanha. De vez em quando, ele “explodia” dentro de casa, e era um custo contê-lo. As vezes, também, ele ía para o piano duas, três horas da manhã... Mas, apesar do absurdo da hora, todos lá em casa gostavam. Ele tocava muito bem. As vezes se embaralhava um pouco e também repetia muito algumas passagens.
Yara de Souza Pigliasco
PIGLIASCO, Yara de Souza. Entrevista concedida ao autor, por telefone. RJ, 10 de julho de 2000;