Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
A POLCA
A POLCA
Surgida no princípio do século XIX, na Boêmia (histórica província localizada entre as atuais Eslováquia e República Tcheca), a saltitante “polka” por aqui chegou, segundo alguns registros, em outubro de 1844, tornando-se, a partir de então, um dos gêneros mais apreciados da Corte brasileira. E após sofrer importante processo de nacionalização, o que concorreu grandemente para o seu sucesso, ainda freqüentou o nosso universo musical por cerca de cinqüenta anos. Das danças daquela época, foi, talvez, a mais popular, principalmente pelo fato de sua coreografia permitir certa “liberdade” entre os que se dispusessem a desenvolver seus passos em algum salão.
Quatro nomes principais deram vida à polca brasileira: Joaquim Antonio da Silva Callado, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Viriato Figueira da Silva, sendo o primeiro e o último flautistas e os demais pianistas autodidatas.
Baptista Siqueira
SIQUEIRA, (João) Baptista. Ernesto Nazareth na Música Brasileira; ensaio histórico-científico. Gráfica Editora Aurora Ltda. Rio de Janeiro, 1967;
O veterano “chorão” Alexandre Gonçalves Pinto, também conhecido por seus pares como “Animal”, publicou, em 1936, um precioso livro com suas impressões sobre o meio musical no qual viveu e apresentando no capítulo intitulado “As polkas”, sua versão romântica e saudosista do tema, quando, inclusive, afirmou, entre outras pérolas, que “a polka é como o samba, uma tradição brasileira,” ou que “é a única dansa que encerra os nossos costumes, a única que tem brasilidade (...)”, etc.
Vamos à transcrição de alguns trechos:
A polka é como o samba, uma tradição brasileira. Só nós, os que Deus permitiu que nascessem debaixo da constelação do Cruzeiro do Sul, a sabemos dansar, a cultivamos com carinho e amor.
A polka é a única dansa que encerra os nossos costumes, a única que tem brasilidade.
Do mesmo modo que os argentinos cultivam o tango e os portuguezes não deixam morrer a “canna verde”, nós os brasileiros havemos de aguentar a polka, havemos de mantel-a atravéz dos seculos, como tradição dos nossos costumes, como recordação dos nossos antepassados e como herança as gerações vindouras. (...)
A polka, a brasileirissima polka ainda é a delicia dos namorados, dos apaixonados ou a approximação de dansarinos arrufados. Quantas vezes dois entes que se querem, mas que se acham separados, aproveitam a cadencia de uma polka para os segredinhos da pacificação.
A polka, com toda a sua belleza, com todos os requisitos de elegancia e com todas as tentações que sua execução provoca, jamais poderá desapparecer dos nossos salões e das nossas salinhas, como um preito de homenagem aos nossos bis-avós e como respeito as nossas tradições.
Alexandre Gonçalves Pinto
PINTO, Alexandre Gonçalves. O choro. Typographia Gloria. Rio de Janeiro, 1936 (2ª Ed. Funarte. Rio de Janeiro, 1978);