Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
ADOLPHO BLOCH
ADOLPHO BLOCH
Em 1984, fui apresentado ao empresário Adolpho Bloch pelo maestro Francisco Mignone; surgindo, daí, uma amizade que só não se desenvolveu mais por causa do temperamento imprevisível desse homem tão singular. Em certos dias, ele me recebia como a um príncipe, com palavras do tipo: “ - Você é um jovem extraordinário...”; “ - Seu trabalho merece todo o nosso apoio...” ; “ - Você pode contar comigo para o que precisar...” Em outros, bastava me ver de sua sala envidraçada, junto à redação, que ía logo dizendo: “ - Se você não quiser se aborrecer, nem chegue perto de mim!...” Uma parente dele, que ali também trabalhava, amabilíssima, vinha depois falar comigo se desculpando... Entretanto, em momentos de “boa lua”, conversando com ele, ouvia-se histórias das mais interessantes, como, por exemplo, a seguinte:
Eu cheguei ao Brasil, exatamente, em 1922, ano em que se comemorava o “Centenário da Independência”. E foi andando pela cidade, para conhecê-la melhor, que vi o Ernesto Nazareth. Ele tocava em uma dessas casas de música (Casa Carlos Gomes), lá na Rua Gonçalves Dias. Eu estava passando e, de repente, ví uma multidão em frente a tal casa, e parei para ver do que se tratava. Era ele tocando. Era um sucesso. Aquele trecho da rua ficava, praticamente, intransitável. Conheci, também, o Villa-Lobos, de quem me tornei amigo. Mas, em relação ao maestro Villa-Lobos, até hoje guardo um grande arrependimento, pois quando ele morreu eu queria ter colocado a foto dele na capa da Manchete; mas fui dar ouvidos a alguns colaboradores que me disseram que isso poderia prejudicar na vendagem da revista. Preferiram uma mulher bonita na capa... E deixei de homenagear, desse modo, tão importante compositor.
Adolpho Bloch
BLOCH, Adolpho. Entrevista concedida ao autor. RJ, janeiro de 1984;
E devem ter sido esses mesmos “colaboradores” que ajudaram a levar o império do “seu” Adolpho à bancarrota, pouco tempo depois de sua morte.