Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
SALVE A REPÚBLICA?...
SALVE A REPÚBLICA?...
Três dias depois, em uma sexta-feira, o alagoano Deodoro da Fonseca (1827/1892), mesmo estando sob juramento de lealdade ao Império e a Pedro II, derruba o regime constituído e instaura a sua versão de “República”.
Despontou, afinal, a aurora de 15 de Novembro! O povo, sempre descuidoso, sahiu á rua para os seus afazeres habituaes, mas, de subito, nota um movimento anormal de tropas pela cidade e em seguida tiros de artilharia para todos os lados do campo de Sant’Anna. Que será? Esta pergunta corre de bocca em bocca, por todos os angulos da cidade. É a procclamação da Republica, responde alguem. Todos ficaram extaticos e boquiabertos, o povo, permitta-se-me a expressão, ficou bestialisado! Mas quem fez a Republica? Pergunta o Zé povo, de charuto na bocca e mãos nos bolsos. O exercito e a armada, em nome do povo. Então, viva a Republica! As musicas tocam, foguetes sobem ao ar e, em breve, as forças marciaes desfilando pelas ruas são acclamadas entre palmas, flores e exclamações festivas; enquanto que o velho imperador, o querido monarcha que não havia muito tempo era abraçado ao regresso da Europa, abandonado, abruptamente, como objecto imprestavel, estava na duvida se fôra ludibrio de um sonho ou se realmente o seu povo dava um exemplo de desanimo e fraqueza na historia patria.
Emfim, a abolição da monarchia entrou para o ról dos factos consummados, Deodoro foi reconhecido primeira auctoridade da nação e entre a monarchia constitucional e a dictadura não mediou senão tiros de polvora secca, sorrisos, embora contrafeitos, palmas e flores. (...) No entanto, o velho imperador, seguido de sua familia, enviava da bahia de Guanabara o adeus á terra de Santa Cruz, o echo, ao longe, repetiu o adeus eterno fracamente correspondido e, em breve, o vapor singrando as aguas deixava apenas, atras de si, uma esteira branca de espumas, que foi pouco a pouco se dissipando, como na mente dos seus ex-subditos, a sua lembrança. A monarchia partiu, o Brasil entrou em pleno periodo dictatorial e o povo em attenção aos serviços relevantes prestados á patria pelo Marechal Deodoro, sagrou-o Generalissimo das forças!... Era uma divida de honra ao Veterano que havia convencido ao povo, pela doutrina do canhão, que devia ser republicano.
Oscar Fleury de Barros
FLEURY (de Barros), Oscar. Á Opinião Publica. Companhia Impressora. Rio de Janeiro, 1893;