Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
FUGA E MORTE DE ERNESTO NAZARETH (1934)
FUGA E MORTE DE ERNESTO NAZARETH (1934)
Quinta-feira, 1º de fevereiro, aproveitando a folga de Bento, seu experiente enfermeiro, e ludibriando o substituto deste, Necar, nosso biografado empreendeu aquela que seria a sua última fuga; comentando-se, inclusive, na ocasião, que o maestro simplesmente procurara, agindo dessa forma, ir ao encontro do filho “Ernestinho”, que fazia aniversário naquele mesmo dia.
Eu me lembro que no dia em que tio Ernesto fugiu, Eulina não foi visitá-lo.
Julita Nazareth Siston
NAZARETH SISTON, Julita. Entrevista concedida ao autor. RJ, 2 de agosto de 1986;
Era um domingo (quinta-feira!) bom, assim como está hoje. O clima lá (na Colônia) é sempre assim. Lá não é quente demais. Mas era isso, deu para ele fugir. Se estivesse chovendo ele não ía. Quer dizer: ele aproveitou que a coisa estava boa. O (Necar) Quintanilha ficou jogando dama lá, entretido, e quando se deu conta, o velho já tinha se mandado. Acredito que ele tenha fugido de tarde. O pessoal, depois da visita, ficava naquele negócio de jogar dama. E o velho aproveitou uma deixa daquela e entrou na estrada.
Bento d’Ávila
ÁVILA, Bento Manuel Moreira de. Entrevista concedida ao autor. RJ, 1979;
E foi possivelmente nesse dia que Ernesto Nazareth encontrou a morte, afogado (“asfixia por submersão”) nas águas da represa responsável pelo abastecimento da colônia e adjacências.
Eu tinha saído, fui visitar uma namorada lá na Penha Circular. Voltei de lá, mais ou menos, duas horas da manhã. Cheguei perto da Colônia, estranhei a iluminação em tudo quanto era corredor. As estradas internas estavam todas iluminadas. Quando cheguei, lá de fronte a igreja, encontrei Ezequiel (já falecido, como também o Necar) que me disse: “ - Puxa, rapaz, você está chegando?... Eu se fosse você nem vinha mais!...” Mas por que? “ - O Nazareth fugiu!... Toda a Prefeitura está atrás do Nazareth!... A Dona Eulina botou todo mundo aqui...” Mas, era conversa dele. Tinha uns carros da Prefeitura, uns oito (!) carros, mais ou menos, do Departamento de Transportes da Prefeitura, que estavam procurando, ajudando a procurar lá pelas estradas dos Bandeirantes, lá pra Realengo, pr’aquela zona de Bento Ribeiro, Marechal Hermes... Mas, o Nazareth não ía para um lugar daquele. Nazareth só podia ter entrado lá pro mato, pois o negócio dele era andar... Não queria saber se em volta, onde ele andava, tinha mato, tinha gente, tinha casa... Então, encontrei o seu Almeida e ele me disse assim: “ - O que você acha disso?...” E o que eu posso achar?... Estou chegando agora, vim de fora, estava de folga, o moço (Necar) estava de serviço... “ - Eu sei que o moço estava de serviço e, por sinal, o moço até já sumiu!...” E eu disse pra ele (Almeida): Olha, o Nazareth não foi para fora, ele não iria para fora, ele só está para cá, pra dentro, ou entrou para cachoeira ou então lá para o Franco da Rocha (pavilhão próximo ao morro denominado “Dois Irmãos”), pois eram os caminhos que nós andávamos. Era alí que todos os dias nós saíamos, eu, ele, o Álvaro e o Ênio... Só não saía a andar comigo um cara que enxergava muito pouco e que era primo desse Ênio. “ - Mas, então, ele está aqui dentro?...” (perguntou-lhe Almeida) Digo: Está!... Ele só pode estar aqui, ele não saía daqui. Fugir ele fugia, pra dentro. Ele está pra dentro do mato.
Bento d’Ávila
ÁVILA, Bento Manuel Moreira de. Entrevista concedida ao autor. RJ, 1979;