Ernesto Nazareth - Vida e Obra - por Luiz Antonio de Almeida
ARTHUR RUBINSTEIN (1918)
ARTHUR RUBINSTEIN (1918)
Pela primeira vez no Brasil, achava-se o grande pianista polonês Arthur Rubinstein (1887/1982). E no Rio de Janeiro, antiga Capital Federal, durante passeio pelo centro da cidade, viu e ouviu pela primeira vez Ernesto Nazareth, que tocava no Cinema Odeon, na parte da tarde, sozinho, e à noite, com pequena orquestra, sobre um estrado próximo à entrada.
Tempos depois, em casa do maestro Henrique Oswald, perguntou ao autor de Il neige se conhecia o tal pianista do cinema da Avenida Rio Branco. “ - Sim, eu o conheço, é o Nazareth!...” Teria respondido Oswald. “ - Então, me apresente a ele, pois tenho interesse em conhecer a música que estava tocando...” Completou Rubinstein.
Em poucos dias, foi marcado um jantar à mesma residência, para que o ilustre visitante conhecesse não só o “Rei do Tango Brasileiro” quanto à outras personalidades do meio musical carioca, entre as quais Villa-Lobos.
À noite combinada, minutos após os cumprimentos de praxe, Ernesto tirou do bolso de seu paletó uma lista para que o colega estrangeiro escolhesse o que gostaria de ouvir. Rubinstein leu, fez-se surpreso, deu um sorriso e disse, obviamente em francês: “ - Não sr. Nazareth, estas aqui eu também toco... O que eu quero ouvir são aquelas músicas que o senhor estava tocando lá no cinema!...” Com a maior ingenuidade, nosso artista apresentara a um dos maiores nomes do piano, de todos os tempos, uma relação só de músicas clássicas. Ele achava que Rubinstein queria ouvi-lo tocar Chopin, Beethoven, Liszt...
Quem narrou este encontro ao autor dessa biografia foi Francisco Mignone, em 1983. Mas encontraremos o mesmo episódio, sem tantos detalhes, também registrado pelo grande maestro em gravação feita para o Museu da Imagem e do Som (RJ), em 1968. Todavia, devemos substituir, na transcrição abaixo, por se tratar de um equívoco, o nome de Luigi Chiaffarelli, renomado professor de piano, residente em São Paulo, pelo de Henrique Oswald.
Eu não estive presente. Soube que ele foi em casa de Luigi Chiaffarelli (Henrique Oswald), e o Arthur Rubinstein estava presente e pediu para o Nazareth tocar alguma coisa. Nazareth sentou-se ao piano e começou a tocar Chopin. Ele queria tocar Chopin para o Rubinstein. Foi uma luta convencê-lo a tocar os Tangos Brasileiros. O Rubinstein apreciava vê-lo tocar. Ele tocava em geral lento. Todo mundo tocava depressa, ele tocava bem devagar os Tangos. O que nós tocávamos com um certo vigor, certo entusiasmo, nele era pacato.
Francisco Mignone
MIGNONE, Francisco (Paulo). “Coleção Depoimentos”. Fundação Museu da Imagem e do Som. Rio de Janeiro, março de 1991. Gravação realizada em 15 de outubro de 1968;